Afirmou
Dalai Lama, cheio de propriedade, batendo de frente com quem ocupa os bancos
dos templos, mas permanece com o coração vazio de afeto e cuidado com o outro.
Afinal, nada justifica a escassez de comportamentos gentis que temos visto.
Quem
nunca ouviu ou leu a frase: “Gentileza
gera gentileza”?
Também
esse dito, com ares de profecia, ressalta a necessidade de manter vivo um
comportamento que fica cada vez mais diminuto, mas que sem ele torna-se muito
difícil convivermos bem uns com os outros.
Um
detalhe é que essa frase é mais comumente interpretada como sendo sobre
comportamentos adotados na rua. Mas é preciso levá-la para casa. Praticar
gentilezas em domicílio também faz parte desse apelo e é tão (ou mais)
importante quanto fazê-lo na rua.
É
mesmo uma verdade que ser gentil no trânsito, no comércio, no trabalho ou mesmo
nas redes sociais é um desafio constante e por vezes exige o máximo do
autocontrole de alguém. Não é tão fácil ser gentil, sobretudo quando não se
recebe o mesmo tratamento.
Também
não é fácil manter-se gentil no dia a dia de nossas casas. Por mais que
gostemos das pessoas mais próximas, nem todo dia é um bom dia. Quando o cansaço
se abate sobre nós; quando, ao retornar para casa, ao invés do descanso
encontramos outros afazeres e problemas a resolver; quando o silêncio do quarto
é quebrado pelo barulho nas casas vizinhas; quando o despertador nos acorda de
um sono tranquilo e nos chama para um dia cheio de tarefas; quando as pessoas à
nossa volta se acham no direito de bisbilhotar nossos assuntos particulares.
É
exatamente nesses momentos críticos que tendemos a descontar em quem nos
apareça primeiro. Algumas das vítimas acabam sendo as pessoas a quem mais
amamos, numa controvérsia que gera muitos conflitos em nossas relações.
Torna-se
um desafio reparar na refeição preparada sobre a mesa, e agradecer o esforço de
quem se dedicou tanto; perceber que o outro não teve uma boa noite de sono ou
um bom dia de trabalho e se dispor a algum gesto que possa melhorar esse
quadro; molhar as plantinhas de alguém, refazer a cama; fazer um elogio; dizer
palavras doces quando se está cuspindo marimbondo.
Quanta
dificuldade encontramos em manter-nos atentos a esses detalhes e fazer disso
uma oportunidade de melhorar o dia de alguém!
Talvez
o melhor jeito seja encarar as pequenas gentilezas como remédio para amenizar
as amarguras deste mundo hostil; ao praticá-las estaremos fazendo dele um lugar
mais acolhedor e humano.
Alguém
que tenha por hábito tratar bem os de casa, mais facilmente tratará bem os
outros que cruzarem pelo seu dia, e quem foi bem tratado terá mais chances de
fazer o mesmo, fazendo girar o maravilhoso círculo da convivência pacífica.
Gandhi
ensinou que “a gentileza não diminui com
o uso. Ela retorna multiplicada.” Portanto, não precisamos economizar!
Podemos continuar cumprimentando os outros, abrindo portas, cedendo cadeiras e
fazendo todo tipo de bondade que uma pessoa gentil é capaz de fazer.
A
gentileza possui uma espécie de encantamento que faz com que os relacionamentos
tornem-se agradáveis e muito, muito mais duradouros. Aposte nela!
Alessandra Piassarollo
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