A
família é nosso primeiro meio social, é onde construímos e nutrimos nossas
primeiras relações e também onde iniciamos nosso desenvolvimento do Eu. Os
vínculos costumam se desenvolver de forma intensa, por vezes nos tornando
cuidadores e defensores de nossa família. Acontece que muitas vezes esses laços
se constituem de forma a não estabelecer limites a essas relações, tornando-as
disfuncionais.
Família
disfuncional? O que é? “Uma família disfuncional é aquela que
responde as exigências internas e externas de mudança, padronizando seu funcionamento.
Relaciona-se sempre da mesma maneira, de forma rígida não permitindo
possibilidades de alternativa. Podemos dizer que ocorre um bloqueio no processo
de comunicação familiar”.
Em
muitos casos um familiar responsabiliza-se por resoluções de problemas e
conflitos que não deveriam ser de sua preocupação. Veja alguns que estão
recentes em minha mente.
1.
Filho que assumiu a posição de ‘chefe da casa’ após separação conturbada dos
pais. Além de cuidar de si e de suas questões ‘adolescentes’, o filho sente-se
na obrigação de cuidar da mãe e educar o irmão mais novo;
2.
Filho de pais que vivem em meio a separações e ameaças de divórcio. O filho
vira mecanismo de reconciliação/separação do casal, sendo peça fundamental para
que um ciclo briga-separa-volta se mantenha a todo vapor;
3.
Filha mais velha e adulta sente-se responsável por dar suporte a sua mãe (que
criou a filha parte da infância sozinha), seja financeira ou emocionalmente.
Tornando-se refém dos problemas da mãe, que são normalmente resolvidos pela
filha ou não resolvidos para se manter esse tipo de relação;
4.
Irmã que sente-se responsável por cuidar dos irmãos e já na fase adulta
continua a resolver os conflitos e arcar com despesas financeiras dos irmãos;
5.
Mãe que, apesar dos filhos já serem adultos e estarem casados, sente-se
responsável por conduzir a vida dos filhos e assumir despesas e
responsabilidades deles.
Ao
expor os exemplos acima não me refiro a situações isoladas ou casos
específicos. Me refiro a ciclos repetitivos que adoecem as relações e sobrepõem
responsabilidades individuais, transferindo-as ao outro.
Em
casos como os já citados todos têm prejuízos em suas vidas. Uma pessoa
sobrecarrega-se, outra não amadurece, mantendo uma relação imatura, sem espaço
para desenvolvimento com intuito de melhora.
Para
alguns pode ser visto como prova de amor, mas não. Amor baseia-se em troca,
respeito mútuo e limites. Estipular limites sim é uma prova de amor, amor ao
outro e a si mesmo.
Normalmente
quem se encontra neste tipo de situação enfrenta dificuldade em romper com o
ciclo vicioso que retroalimenta, no entanto, é extremamente necessário que o indivíduo
entenda o papel que vem exercendo e o que o motiva a manter-se nessa posição
(normalmente há algum ganho ou enrijecimento por um ganho do passado). A
consciência do funcionamento familiar já é de grande valia já que muitas
pessoas vivenciam essas situações sem nem ao menos perceber que algo está
disfuncional, mesmo em casos em que haja sofrimento manifesto.
Em
alguns casos uma conversa com alguém fora da família, como um amigo, poderá
alertar e alterar o status da família. Outras vezes o processo terapêutico se
faz necessário.
O
processo terapêutico individual por si só já provocará desdobramentos no lidar
deste individuo com seus familiares. Agora se o processo terapêutico for
familiar, ou seja, todos os membros da família participarem, o processo poderá
ser muito mais rápido, pois os conflitos referentes ao envolvimento e mecanismo
familiar serão resolvidos por todos juntos, além de propiciar que todos
entendam seu papel no funcionamento da família, possibilitando, assim, a
escolha de permanecer retroalimentando os laços disfuncionais ou reescrevendo
novas formas de organização e arranjo familiar.
Via: Portal Raízes
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