Há
pessoas tão preocupadas em se mostrar bem e agradar, que acabam se perdendo de
si mesmas. São tantos que vivem iludidos por espelhos de pequenas ilusões e
escondidos atrás de cortinas de grandes mentiras, que com o passar do tempo,
perdem a noção da realidade: já não conseguem viver sendo verdadeiros. E existe
uma cobrança coletiva por baixo disso. Somos cobrados pelo sucesso alheio e
incentivados a sermos iguais. Mal sabemos que, em algumas situações, por detrás
de uma foto postada, quase sempre há máscaras. Quase sempre há pessoas com a
alma ferida tentando se mostrar fortalecidas. Quando a pessoa se deixa seduzir
pelas tentações de ego e de vaidade, acaba entregando a vida para uma viagem só
de ida. Só na tela. Tentar competir com o mundo é a melhor e mais rápida
maneira de ser derrotado.
Existe
um enquadramento entre as redes sociais e sua fábrica de ilusões. Parece
absurdo, mas, na maioria das vezes, só postamos aquilo que queremos que os
outros vejam. Postamos aquilo que queremos ser (e muitas vezes não somos). A
verdade nem sempre é mostrada. Poses e mais poses, filtros e mais filtros para
se chegar na foto perfeita. Quantas são as vezes que, em busca de aprovação de
outras pessoas, pintamos um quadro totalmente disforme da realidade. Nem sempre
é o que parece, vemos pessoas que estão prestes a cair num precipício, mas
querem que todos pensem o contrário. A busca doentia por likes transforma fulanos e fulanas em reféns de suas próprias
mentiras. A postagem dos outros se torna uma provocação e é preciso se mostrar
melhor. Mudar a aparência não é mais suficiente, é preciso fingir outra vida.
Na
verdade, há casos em que a diferença de aparência entre a pessoa real e a
pessoa mostrada na tela do computador é tão grande que, em grande parte das
vezes, é algo inacreditável. São figuras distintas, quase que irreconhecíveis
quando colocadas lado a lado. A sociedade se reconfigura quando se projeta uma
imagem vitoriosa. Há uma aceitação maior. Há uma glorificação da figura do ser
bonito, rico e perfeito. E não se enquadrar nisso é dolorido para pessoas (em
sua maioria) com a autoestima abalada demais ou elevada demais. Umas de um
lado, outras de outro. Paradoxos difíceis de compreender. Um sonho de consumo
que faz muitos se sentirem inseguros e tristes. Um sonho de consumo que faz
muitos se mostrarem alegres e bem-sucedidos. Um sonho de ser além do que as
outras pessoas comuns aparentemente são. Os perfis são tão perfeitos, as
pessoas tão alegres, as fotos tão bonitas, as comidas tão gostosas, as selfies
mais incríveis, as festas mais chiques, os amigos tão sorridentes, as famílias
tão impecáveis, empregos poderosos, romances maravilhosos, viagens inesquecíveis,
as roupas mais caras: a melhor vida possível! Depois desse prazer dos diversos likes, essas ações viciam e tendem a se
repetir. Quando tudo isso é verdadeiro e realmente vivemos e temos essa vida, é
bom demais expor as conquistas, ostentar sucesso e trabalhar o marketing
pessoal, pode fazer parte, saudavelmente, do dia a dia do vaidoso, quando é sem
muitos exageros, melhor ainda. O perigo é quando muita parte do que é exibido
não é real, é montado, disfarçado, é fake.
Existe o risco de ser descoberto e o castelo cair. O prazer pode virar dor, a
luxúria pode virar amargura, aplausos viram vaias, beleza vira vergonha e
sorrisos viram choro.
É
complicado pensar que atualmente os níveis de felicidade, realização e sucesso
das pessoas são calculados pelo número de likes
e coraçõezinhos em seu perfil. Cliques esses, muitas vezes feitos por pessoas
que nem se conhecem. Fica mais difícil saber que isso também nos atinge. Essa
falsa prosperidade que encontramos na vida dos outros, nós tentamos concretizar
na vida da gente também e nem sempre conseguimos. A vida não nos cobra
perfeição, mas a sociedade sim, os amigos sim, a família sim e, com isso, projetamos
uma imagem de vencedor para agradar. Esse limite entre o real e o virtual, nos
traz para uma reflexão sobre o que fazemos e o quanto ficamos invejosos sobre o
que os outros fazem melhor do que nós. É como se a felicidade interior só
tivesse alguma serventia se as outras pessoas vissem e curtissem. Como se a
felicidade alheia fosse algo para incitar inveja.
Muitas
vezes a gente se sente assim, não sendo suficiente. Sentimos inveja. Sentimos
que não chegamos lá. Mas não queremos assumir e não pretendemos nos esconder.
Mas, se você precisa mudar seu jeito e esconder suas verdades para caber no
mundo, saiba que jamais nada disso o deixaria mais feliz. E nem mais aceito. E
nem mais bonito ou bem-sucedido. Quando você se mostra grande em cima de algo
que você não construiu, a queda é certa e sua pequenez será exposta algum dia.
Não existe quem não precise de melhorias, sempre deve haver uma inspiração que
nos guie aos acertos, mas é preciso repelir os erros, é preciso aceitar quem
somos. Se a gente tiver um coração do bem, ele se abrirá e criará espaço para
receber energia positiva. Somente um coração cheio de alegria e verdades pode
fazer uma alma repleta de felicidade. A alma é que deve se mostrar feliz e não
aquela foto maquiada da rede social. Só por isso já vale a pena a gente lutar
para se mostrar como é. Não deixe que as vaidades te impeçam de andar somente
pelos caminhos da verdade. Somente a verdade deve ser mostrada, mesmo que ela
não te enobreça, mesmo que ela não te cresça, mesmo que ela não te coloque em
palanques e palcos, não te traga prêmios e palmas. Mas, entenda que só ela
importa. Só ela é nobre. Só ela interessa. A imagem verdadeira é a única coisa
que a gente deve ter de melhor e mais belo a se mostrar.
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