Por
mais estranho que pareça existem desvantagens em sempre ser uma pessoa legal.
Você
as conhece, eu as conheço, ou você pode ser uma delas: pessoas legais.
Elas
sempre dão aos outros o benefício da dúvida, estão prontas para dar a mão, ou
são voluntárias para aquela tarefa que ninguém quer. Elas são sensíveis aos
sentimentos dos outros, fáceis de conviver e raramente discutem. O que há para
não gostar?
Não
muito, você diz. Mas se você é sempre a pessoa legal, se está em sua
personalidade 24/7, muitas vezes há perigos psicológicos à espreita abaixo
dessa superfície amigável, desvantagens que podem cobrar seu preço. Aqui estão
as mais comuns:
1.
Internalização
Você
é tão bom, tão descontraído assim, o tempo todo? A menos que você esteja
tomando alguns medicamentos altamente eficazes, provavelmente não. O que as
pessoas sempre legais tendem a fazer é internalizar – manter para si emoções
negativas, que naturalmente surgem no decorrer da vida cotidiana. O subproduto
dessas crises emocionais geralmente é a depressão, ansiedade e dependência.
2.
Surtos periódicos
E
se a depressão, a ansiedade e o vício não são fortes o suficiente para manter
esses sentimentos não educados à distância, você corre o risco de surtar,
através de uma noitada em uma viagem de negócios, uma farra, agindo de maneira
raivosa com seu filho, seu cachorro ou seu colega gentil, mas sempre distraído.
Parece vir do nada, você se sente terrivelmente culpado, pede desculpas e
promete nunca mais fazer isso novamente... até fazer de novo. Até que a pressão
se acumule, e os gatilhos de estresse certos o desencadeiam.
3.
Autocrítica
O
que não é legal é que você tem mais chances de se culpar do que qualquer outra
pessoa: a culpa é sua, você deveria saber, você fez algo que fez a outra pessoa
agir da maneira que ela agiu, embora você realmente não tenha ideia do que
possa ter sido. Você tem essa voz crítica, estilo ‘sargentona’, gritando com
você o tempo todo, olhando por cima do ombro, apontando o dedo. Sob esse abuso
verbal constante, você se compromete a se esforçar mais, não estragar as
coisas, ser ainda melhor, mas o que você faz nunca é bom o suficiente; falhas,
erros e incriminações estão em todo lugar. É uma maneira infeliz de viver.
4.
Ressentimento
Um
acúmulo de ressentimentos pode frequentemente alimentar este surto, mas às
vezes é apenas um lamento lento e sempre presente que você internaliza junto
com todo o resto. O ressentimento vem porque sua amabilidade também vem com
expectativas – que os outros irão apreciar seus esforços ou seguirão seu
exemplo e serão como você, sempre colocando os outros em primeiro lugar, etc. –
ou esperando que eles percebam o que você precisa e deem para você, mesmo que
você nunca diga quais são essas necessidades.
5.
Esgotamentos periódicos
Se
você fizer todo o trabalho pesado o tempo todo, estará propenso a um colapso
periódico. Pode ser por exaustão, por doença ou afundando nas profundezas de
uma depressão severa. O esgotamento pode deixá-lo de lado por um tempo, mas
quando você se recupera, está rapidamente de volta ao trabalho.
6.
Pré-comprometimento em relacionamentos
Em
vez de declarar claramente o que quer no início de uma discussão com alguém,
você antecipa ou assume o que a outra pessoa gostaria, e então reduz sua
própria demanda antes que a conversa comece. “Jane provavelmente não vai querer trocar todo meu turno de fim de
semana”, você diz para si mesmo, então, em vez de perguntar se ela pode
trabalhar o fim de semana inteiro para você, você pergunta se ela pode trocar o
sábado. Quando você faz este pré-comprometimento o tempo todo em
relacionamentos íntimos, acaba nunca obtendo o que quer (apesar de fantasiar
que a outra pessoa lerá sua mente e oferecerá de qualquer maneira), e em vez
disso você apenas obterá versões diluídas que são “mais ou menos”. Com o tempo, você acaba ficando com uma vida
enfraquecida.
7.
Apresentar-se como controlador ou passivo-agressivo de vez em quando
Outros,
especialmente aqueles mais próximos a você, podem te ver como sendo sutilmente
controlador ou passivo-agressivo de vez em quando – porque você é. Sua
personalidade racha um pouco, e você coloca uma pressão sutil ou culpa para
conseguir o que quer, ou concorda com alguma coisa, mas então age de maneira
passiva e agressiva, porque sua infelicidade escapa.
8.
Relacionamentos banais
Relacionamentos
próximos podem não ter profundidade. Entre o pré-compromisso e a
internalização, você nunca diz o que realmente quer e sente, não está sendo
realmente honesto e emocionalmente íntimo. E se ambos os parceiros são legais,
os efeitos são multiplicados, resultando em um relacionamento sem conflito, mas
superficial.
9.
Arrependimentos futuros
Aquela
pobre mulher de 100 anos que se arrependeu de comer muito feijão e não tomou
sorvete o suficiente. Aquela caricatura da lápide que diz: “Comeu toda aquela couve por nada”. A vida diluída, o não ser
verdadeiramente conhecido, as milhões de oportunidades perdidas de fazer e
conseguir o que quer, em vez do que os outros queriam, podem deixar você com sérios
arrependimentos na vida.
Isso significa que você não deve ser
legal?
CLARO
QUE NÃO. Mas há uma diferença entre uma vida orientada por valores e uma
impulsionada pela ansiedade. Uma vida orientada por valores vem de seus
valores, suas crenças básicas como adulto sobre como conviver com os outros.
Você é gentil e atencioso e vê que todos nós estamos lutando neste minúsculo
ponto no vasto universo; você trata os outros como gostaria de ser tratado.
Você faz isso não porque ‘deveria’ ou porque vai se sentir culpado de outra
forma, mas porque é o seu plano de vida.
Mas
ao mesmo tempo você pode dizer não, cuidar de si mesmo, assim como os outros,
ser assertivo e honesto sem ser agressivo e ofensivo. A vida é um “ganha-ganha” tanto quanto possível.
Por
outro lado, a vida impulsionada pela ansiedade faz com que ser gentil seja uma forma
de controlar a ansiedade. Você aprendeu a adotar uma postura gentil como forma
de evitar conflitos e confrontos que não consegue tolerar, uma postura que é: “Fico feliz se você está feliz”, o que
significa que faço tudo o que preciso para não aborrecer você, pois o fato de
você estar chateado me deixa ansioso. Aqui você não diz não, não fala o que
pensa, nem é honesto e assertivo, por causa do seu próprio medo. É menos sobre
um valor de como tratar as pessoas e mais um traje psicológico para protegê-lo
do que parece ser um mundo assustador.
Desconstruindo
Se
você decidir que está, de fato, cansado de ser legal o tempo todo, ou cansado
de absorver algumas ou todas essas consequências, é hora de parar de entrar no
piloto automático e começar a fazer escolhas e mudar alguns de seus comportamentos.
Veja como começar:
1.
Desacelere para perceber como você realmente se sente
Se
você sempre é legal, provavelmente nem percebe como se sente na maior parte do
tempo. Em vez de levantar a mão rapidamente na reunião da equipe quando eles
chamam voluntários, respire profundamente algumas vezes e pergunte a si mesmo
se você realmente quer fazer isso. O mesmo acontece com a negociação com seu
parceiro: pare com o pré-compromisso e descubra o que realmente quer. Se você
não puder dizer na hora, espere e continue se perguntando como realmente se
sente; algo acabará surgindo.
2.
Pratique dizer não
Não
levantar a mão é dizer não, mas você deve praticar isso mais ativamente – é uma
questão de estabelecer limites. Se você for convidado para participar de um
comitê da igreja, por exemplo, e não quiser, diga não. Melhor ainda, seja
proativo e deixe que os outros saibam onde você está antes de chegar até você.
Se for muito difícil dizer não pessoalmente, ligue e deixe um correio de voz ou
envie uma mensagem de texto. Apenas faça.
3.
Traduza seus sentimentos
Quando
você sentir raiva, irritação ou ressentimento, use como informação que lhe diga
o que precisa, o que não gosta, o que pode querer. Então, novamente, fale o que
pensa.
4.
Pratique ser mais honesto
Honestidade
é essencialmente o que define os limites, mas a honestidade também é o condutor
da intimidade. Saia dessa conversa superficial e experimente conversas mais
profundas – diga às pessoas próximas a você como você realmente se sente, em
vez de dizer que está ‘bem’. Se o seu parceiro está fazendo o mesmo, coloque o
problema da intimidade verbal e honestidade na mesa como algo que você quer
trabalhar.
5.
Use seus sintomas como ferramentas para informar quando estiver sobrecarregado
Não
basta varrer a compulsão, o esgotamento ou a agressividade passiva para debaixo
do tapete, mas em vez disso usá-los como alertas de que você está sendo
responsável demais, que está negligenciando suas próprias necessidades. É hora
de não apenas se desculpar ou se recuperar, mas, novamente, falar o que pensa.
6.
Enfrente as vozes críticas
Suas
vozes críticas vão enlouquecer quando começar qualquer um dos itens acima. Você
vai se sentir culpado, ansioso de que o mundo irá desprezá-lo e que coisas
terríveis vão acontecer. Esta é uma coisa de criança que explode quando você
começa a quebrar seus padrões antigos. Respire profundamente algumas vezes, dê
um tapinha nas costas e siga em frente.
Então,
você está pronto para desistir de algumas das suas gentilezas?
Via: Conti Outra
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