A
melhor face da humanidade merece aplausos após um drama que uniu o mundo em
solidariedade, esperança e doação até da própria vida.
Não
é fácil destacar pessoas sem cometer vários e injustos esquecimentos, mas pelo
menos alguns dos muitos heróis envolvidos no “resgate da caverna da Tailândia” precisam ser mencionados quando o
mundo assistiu, eufórico, emocionado, ao êxito recompensador deste empenho
mundial em salvar 12 meninos e o seu jovem treinador de futebol.
1
– Rick Stanton e John Volanthem, os mergulhadores britânicos
Foram
eles que localizaram o grupo vivo após 9 dias desaparecidos, um evento de muito
baixa probabilidade que, não à toa, é apontado como “o primeiro e fundamental milagre” de toda esta epopeia. Sem que
sequer houvesse a certeza de que o grupo estava lá dentro, Stanton e Volanthem
encararam um mergulho dificultado por passagens claustrofobicamente estreitas,
águas barrentas com visibilidade quase nula, forte fluxo contrário da água,
risco de piora repentina da inundação, escuridão total no ambiente e uma
distância a partir da entrada que a maioria das pessoas teria julgado altamente
imprudente – os meninos foram achados a quatro quilômetros da boca da caverna,
bem adentro do emaranhado subterrâneo. John Volanthem e Rick Stanton têm grande
experiência em operações de alto risco envolvendo mergulho e resgate. Merecidamente,
Andy Eavis, porta-voz da Associação Britânica de Espeleologia, declarou a
respeito dos dois ao jornal The Washington Post:
“Eu disse logo que se alguém
encontrasse esses meninos, seriam estes dois mergulhadores, que são os melhores
do mundo”.
2
– A complexa e coesa equipe de resgate
Mais
de mil pessoas participaram da missão de salvamento, incluindo desde os
responsáveis por desenhar a minuciosa e ousada estratégia até os executores
propriamente ditos da operação de resgate: os corajosos mergulhadores e os
profissionais auxiliares, como os médicos que os acompanharam. Dentre os
mergulhadores, 40 eram tailandeses e 50 chegaram de outros países. Mas, além
dos especialistas práticos em mergulho dentro de cavernas, compuseram o
conjunto dos socorristas também os médicos que precisaram chegar até a cavidade
para prestar os primeiros socorros aos meninos, os técnicos em espeleologia, os
militares tailandeses, os engenheiros que bombearam milhões de litros de água
para fora da caverna, as autoridades governamentais que precisaram tomar
decisões extremamente delicadas sob a intensa pressão do tempo e das condições
meteorológicas... Foi um espetacular trabalho de equipe em que cada segmento do
conjunto precisou funcionar com o máximo grau possível de perfeição.
3
– Saman Kunan, o mergulhador que deu a vida pelos meninos
Aclamado
agora como herói nacional, ele tinha 38 anos de idade e era voluntário na ação
de resgate. Havia sido militar do grupo de elite da marinha tailandesa, além de
atleta de alto rendimento. Praticava vários esportes e, na corrida de aventura,
aplicava habilidades como mountain bike, trekking e canoagem. Mesmo não sendo
experiente em cavernas, foi um dos primeiros voluntários a entrarem no complexo
subterrâneo de Tham Luang, o que dá indícios da sua coragem. A missão de Saman
ao mergulhar naquelas águas turvas era levar suprimentos e oxigênio ao grupo
dos meninos. Enfrentou 6 horas para chegar à cavidade onde eles estavam presos
e, em dado momento do trajeto de mais 5 horas para retornar, ficou ele próprio
sem oxigênio. Saman perdeu os sentidos, afogou-se e não pôde ser reanimado a
tempo pela equipe de socorro. A sua perda, que abalou os ânimos da equipe num
primeiro momento e desafiou o otimismo de todo um planeta, se transformou em
motivação adicional para os outros resgatistas: eles declararam que iriam até o
fim e que não permitiriam que a morte de um companheiro tivesse sido em vão. O
sucesso da operação acabou se tornando a mais excelsa homenagem ao homem que
deu a própria vida para que os meninos e seu treinador não perdessem a deles.
4
– Os voluntários dos bastidores
Vindos
às centenas, de diversas regiões da Tailândia e de outros países e até
continentes, eles se dispuseram a ajudar no que fossem úteis, por mais
secundários que parecessem os seus serviços: desde tradutores até carregadores
de materiais; desde massagistas para aliviar a tensão dos profissionais
diretamente atuantes nas operações de resgate até mototaxistas que
transportavam os voluntários de graça entre a cidade e a caverna; desde amigos
e conhecidos à inteira disposição das famílias até moradores locais que
ofereciam gratuitamente comida e água a todos os envolvidos na complexa
operação. É justo mencionar, ainda, os agricultores dos arredores que chegaram
a renunciar com gosto às próprias colheitas em prol do resgate dos meninos: os
milhões de litros de água bombeados para fora da caverna tiveram que ser
despejados, em parte, em alguns campos de arroz que acabaram assim devastados.
Seus donos declararam que a colheita poderá ser recuperada no futuro e que as
vidas humanas a serem salvas agora eram incomparavelmente mais valiosas.
5
– As famílias
Procurando
manter a calma e evitar compreensíveis explosões de desespero capazes de
perturbar as operações, as famílias colaboraram o tempo todo e acataram com
sensatez as orientações e determinações das autoridades responsáveis pelo
resgate. Foi muito importante para o país, além disso, o testemunho de generosidade
das famílias que defenderam a inocência do treinador do time, o jovem de 25
anos que chegou a ser apontado por parte da opinião pública, precipitadamente,
como o “culpado” pelo drama.
6
– Ekkapol Chantawong, o treinador voluntário
O
rapaz de 25 anos, treinador voluntário de futebol, é reconhecido como amigo de
confiança pelos meninos do time e pelos seus familiares. Sua autoridade moral,
juntamente com a sua experiência de autodomínio como ex-monge budista, foi
imprescindível para manter o controle emocional do grupo – e o dele próprio.
Durante os 9 dias que se passaram até a chegada dos primeiros socorristas,
Ekapol ficou em jejum para deixar o máximo possível de alimento para os
meninos, chegando a se tornar, com isto, o mais desnutrido e fragilizado fisicamente
de todo o grupo. Em mensagem enviada às famílias após a chegada dos
resgatistas, o jovem pediu desculpas por ter levado os meninos ao local, embora
tivesse tomado as precauções habituais para um passeio que já tinha acontecido
em ocasiões anteriores sem qualquer problema. As famílias declararam que não o
consideram culpado e que veem o caso como uma fatalidade. Apesar de apresentar
o estado de saúde mais frágil de todo o grupo, Ekapol foi o último a ser
resgatado porque a sua presença entre os meninos era considerada fundamental
para mantê-los confiantes.
7
– Os próprios meninos
Os
jogadores do agora mundialmente conhecido time dos “Javalis Selvagens” têm de meros 11 anos de idade até 16 e souberam
enfrentar uma situação desesperadora com resiliência quase implausível.
Vitimados por uma fatalidade, conseguiram sobreviver em condições extremas
durante 9 dias à espera de um socorro que não sabiam se chegaria, e, mesmo após
a chegada do resgate, mantiveram a paciência e a serenidade durante outra semana
completa até que pudessem começar a ser retirados da caverna em uma operação de
grande risco. Eles próprios tiveram a presença de espírito de acalmar as suas
famílias com mensagens escritas nas quais garantiram estar bem e pediram aos
pais que mantivessem a tranquilidade e a confiança. Sua união como grupo, sua
capacidade de disciplina e sua notável confiança no jovem treinador foram
decisivas para a sua sobrevivência e para o sucesso do resgate.
8
– A humanidade em sua melhor face
A
história da civilização registra poucos eventos supostamente “locais” que foram tão capazes de captar
com tanta intensidade as atenções e as emoções do planeta inteiro quanto esse
drama com final feliz vivido pelos 12 meninos e seu treinador na caverna da
Tailândia. Correntes de oração e solidariedade deram a volta ao mundo e
competiram, vitoriosamente, com as atenções mundiais devotadas à Copa do Mundo
FIFA em andamento na Rússia. É particularmente chamativo o caráter otimista e
esperançoso da imensa maioria das reações compartilhadas nas redes sociais, a
começar pelos desenhos postados principalmente pelos próprios tailandeses:
mensagens de apoio, de fé, de confiança, de solidariedade, de unidade, de
resiliência e de perseverança. Treze desconhecidos de um lugar remoto e longínquo
passaram de repente a ser uma prioridade nas orações e nos melhores desejos
fraternos de bilhões de seres humanos de todos os países, que derramaram tanto
lágrimas de comoção quanto de júbilo ao assistirem ao sucesso quase impossível
de um resgate no limite da tragédia.
9
– Deus
Para
muita gente, inclusive crentes, soa oportunista mencionar a Deus num caso como
este, cabendo, para muitos, um válido questionamento: se Deus de fato os queria
sãos e salvos, por que permitiu que eles corressem tanto risco? Esta é uma
reflexão de natureza filosófica dentre as mais ricas da longa história do
pensamento humano, mas, basicamente, as respostas se emolduram quase todas na
mesma perspectiva: a da liberdade dos seres humanos, inerente à sua natureza
criada pelo próprio Deus. Se não nos poupa dos males, riscos e limitações que
compõem a nossa existência no tempo e no espaço, Deus também não nos nega os
recursos e meios necessários para que gerenciemos essa existência a partir da
nossa liberdade de arbítrio e de escolha. A Providência Divina age em harmonia
com o respeito de Deus pela liberdade que Ele próprio quis atribuir à nossa
natureza racional. Mesmo quando a nossa liberdade nos permite agir
colocando-nos em risco, Ele não a suprime: em vez de nos tratar como marionetes,
Ele prefere nos dotar das faculdades e recursos necessários para que nós
próprios assumamos as nossas responsabilidades. Acolher a Sua presença ou
descartá-la é apenas um dos cenários em que podemos exercer essa liberdade e
suas decorrências. Somos tão livres de arbítrio e escolha que podemos optar até
mesmo por prescindir de Deus em nossa vida. Igualmente, somos tão livres de
arbítrio e escolha que podemos optar por reconhecer no mistério “cavernoso” da nossa existência neste
mundo os rastros da Sua presença que nos aponta os caminhos. É a liberdade da
fé, à nossa disposição.
Via: Aleteia
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