Mais
da metade da escalação titular da seleção brasileira se encaixa nas
estatísticas que apontam que 12 milhões de crianças crescem sem a figura
paterna no país.
Em
todo o Brasil, cerca de 12 milhões de crianças crescem sem a presença da figura
paterna. 5,5 milhões delas sequer têm o nome do pai em seus registros de
nascimento. Não é uma surpresa, portanto, que seis dos onze titulares da
seleção brasileira na Copa do Mundo da Rússia cresceram sem o apoio do pai
biológico. Miranda, Gabriel Jesus, Thiago Silva, Marcelo, Casemiro e Paulinho
tiveram pouco ou nenhum contato com seus pais – e Fagner foi criado pelo pai,
sem a mãe –, mas tiveram o apoio de outras figuras de referência que
favoreceram o seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Gabriel
Jesus homenageia a mãe com um sinal de telefonema cada vez que marca um gol.
Vera Lúcia o criou, com mais três irmãos, sozinha, depois de ter sido
abandonada pelo marido, que foi viver com outra mulher, antes ainda de Jesus
nascer. “Quando ia aos jogos e via meus
amigos, sentia inveja por não ter um pai presente. Mas, do jeito que minha mãe
me criou, eu logo esquecia que tinha pai”, contou o atacante em depoimento
ao The Players’ Tribune.
As
mesmas dificuldades financeiras que quase tornaram Thiago Silva vítima de um
aborto – a família convenceu a mãe, Ângela, a mudar de ideia – foram o estopim
da separação entre os pais do zagueiro, quando ele tinha cinco anos. O segundo
marido de Ângela, Valdomiro, cuidou de Thiago e dos dois irmãos como se fossem
seus próprios filhos. “Se cheguei onde eu
cheguei na minha carreira, foi graças a você. O senhor que foi meu pai, amigo,
parceiro, é meu super-herói. Em todos os momentos em que eu precisava, lá
estava você para me socorrer”, disse o jogador ao lamentar a morte de
Valdomiro, em 2014.
Paulinho
foi criado pelo padrasto desde ainda mais cedo – ele tinha três meses quando a
mãe, Erica Lima, arranjou um novo parceiro. Embora leve o nome do pai, José
Paulo Bezerra Maciel, ele raramente o vê: a última vez foi há seis anos.
Separado de Erica desde o nascimento de Paulinho, José Paulo o encontrava
pouquíssimas vezes durante a infância do menino e o contato ficou ainda mais
raro depois que o pai deixou São Paulo e voltou à sua cidade natal, Pesqueira,
no Pernambuco. Paulinho chegou a largar o futebol após sofrer racismo e calote
em sua primeira passagem pela Europa, mas foi convencido pela mãe a não
desistir.
Outras
vezes, quem se torna a figura de referência é um parente. É o caso de Cássio,
que teve o apoio do tio, e de Marcelo, que viveu com os avós desde os 4 anos de
idade. O avô, Pedro, morto às vésperas da Copa do Mundo de 2014, provinha o
sustento da casa e levava o garoto aos treinos no Fluminense, fazendo-se
presente em todos os seus jogos. “Ele
praticamente deu a vida por um moleque de 13, 14 anos, sem saber se eu viraria
jogador”, contou Marcelo em seu canal no YouTube. “Meu avô foi pai e mãe, por tudo que fez por mim”.
Suporte
“Mais importante que o suporte
paterno, é o suporte de valores”,
diz ao El País a psicóloga do esporte Suzy Fleury, que já integrou a comissão
técnica da seleção brasileira. “Muitas
vezes, a mãe ou outra pessoa, como o padrasto, tio e até mesmo um treinador,
consegue assumir as funções de acolhimento que caberiam ao pai biológico. Por
isso há várias histórias em que a ausência paterna não impede um jogador de alcançar
o sucesso no futebol”.
Já
o psicólogo do esporte João Ricardo Cozac ressalta a importância da família no
desenvolvimento da pessoa. “O núcleo
familiar é muito importante para a formação da personalidade. E, nesse sentido,
a ausência paterna pode deixar enormes lacunas no desenvolvimento psicológico
de um atleta”, explica. Para Reginaldo Fino, um dos primeiros treinadores
de Neymar, a influência do pai foi um diferencial no sucesso do jogador. “Neymar sempre teve confiança e
tranquilidade para jogar, porque sabia que, fora do campo, seu pai cuidava de
tudo”, diz.
Outro
caso de apoio paterno firme é o de Willian, que conta com a inseparável
companhia de Severino da Silva. O pai chegava a intervir em assuntos internos
do Corinthians na época que o filho integrava as categorias de base, incluindo
o episódio em que exigiu punição a um treinador acusado de abusar sexualmente
de garotos no clube.
Via: Sempre Família
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