Numa
manhã qualquer, num dia de verão, você liga o celular e recebe uma mensagem
comunicando que seu amigo de infância sofreu um acidente e está em coma no
hospital. Numa terça ensolarada, você vê nas redes sociais que uma das meninas
que se formou no ensino fundamental na sua turma está com câncer. Numa tarde de
quinta seu irmão liga em prantos falando que o resultado da tomografia apontou
um tumor maligno. Em uma segunda de carnaval sua tia liga pra informar que seus
pais sofreram um acidente e o estado é grave. Na virada do ano você é informada
que a mãe de uma das suas amigas faleceu. Parece que a vida vai correndo
normalmente até que notícias como essas nos fazem encarar a nossa finitude de
frente. Nos fazem enxergar que a vida é sim um sopro e que nada sabemos sobre
os revezes que ela poderá dar até o dia que a notícia será sobre a gente. Mas
temos vivido tão mal...
Temos
vivido como se nosso prazo por aqui fosse eterno. Porém, não é. Um dia serão os
nossos exames que apontarão algo estranho, um dia seremos nós o motorista
envolvido naquele acidente, um dia seremos nós a receber um prognóstico nada
favorável, um dia seremos nós que veremos a nossa vida chegando ao fim. Se
sabemos que somos finitos e que todos ao nosso redor também são (não importa o
quanto você ama essas pessoas), por que não aproveitamos cada segundinho pra
fazer essa estadia mais leve, mais feliz, mais bem vivida?
Por
que perdemos tanto tempo juntando coisas, acumulando bens, guardando dinheiro,
trabalhando 12h por dia enquanto nossos filhos estão crescendo sem a nossa
presença, enquanto nossos pais estão envelhecendo sem a atenção e o cuidado que
merecem? Por que guardamos mágoa e rancor, discutimos por motivos banais,
alimentamos ódio quando tudo poderia ser resolvido com um gesto muito simples,
com apenas uma atitude de humildade, com um pedido de perdão? Por que nos
alimentamos com tantas porcarias (alimentos e sentimentos), não cuidamos da
nossa saúde, temos preguiça de praticar alguma atividade física, nos entupimos
de coisas que de antemão sabemos que são prejudiciais a nossa saúde ao invés de
termos um mínimo cuidado com aquilo que sabemos que é tão frágil? Por que
passamos uma vida numa profissão que não nos realiza, trabalhando em algo no
qual não acreditamos, acordando todos os dias sem a mínima vontade de sair da
cama enquanto poderíamos buscar algo que nos fizesse feliz, que nos fizesse
sair da cama cantando, que mesmo que não tivesse um retorno financeiro tão bom
nos traria mais paz e satisfação ao invés de apenas mais dinheiro? Por quê?
Porque não nos damos conta que nossa vida é um cristal, porque não nos damos
conta que a vida das pessoas que amamos também vai acabar, porque não paramos
pra refletir sobre o que realmente importa, sobre o que realmente tem valor?
Tudo
o que temos é só o hoje, tudo o que temos é o presente (que não por acaso tem
esse nome). Tomara que acontecimentos como esses nos façam enxergar que as
coisas mais simples da vida é que são as mais importantes, que dinheiro
acumulado não é garantia de felicidade, que depois de perder saúde você poderá
gastar tudo e mesmo assim não tê-la de volta, que cada momento é único e não
torna a se repetir, que as pessoas erram e a gente também erra, então todos
merecemos perdão, que não vale a pena trabalhar tanto para adquirir coisas que
você nem está tendo tempo para usufruir. Porque a vida passa, a vida está
passando... E tomara que a gente esteja realmente vivendo. Tomara que a gente
esteja dando valor a essa passagem por aqui, que pode ser breve, só não pode
ser insignificante.
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