Inúmeros
são os momentos que nos sentimos desamparados. Ainda que tenhamos para onde
voltar, é como se o caminho estivesse em neblina e fica difícil encontrar o
lado certo. Dia após dia, nos encontramos em situações que nos tiram o ar, a
confusão se fixa na nossa pele e se torna inquilina. No entanto, dentro do
nosso caos interno, há o que nos acalma e dá esperança para continuar: a
gentileza de alguém.
É
como abrir as janelas do quartinho do fundo e deixar o ar entrar. Dá aquela
aliviada, assim como uma válvula de escape. Deixa a gente mais leve e tira
algum peso dos nossos ombros.
Estamos
tão acostumados com a arrogância alheia. E na maior parte do tempo, passamos
despercebidos, como se nossa massa fosse feita apenas de vento e ninguém está
nos vendo ali. Acumulamos tanto desafeto que o devolvemos sem perceber. Mal
olhamos para a pessoa que nos entrega o bilhete nas estações de metrô,
esquecemos que existe alguém atrás de todas as janelinhas de vidro blindadas.
Apenas ignoramos a existência de outro ser ali, bem na nossa frente. Pegamos o
que queremos e saímos. Todos invisíveis.
Não
é normal repassar essas atitudes. Propagar a ignorância é um ato de vandalismo
contra a nossa humanidade. É preciso cultivar a empatia, não importa o quão
difícil seja depois se sermos atacados tantas vezes. Temos que lutar para
manter nossa capacidade de ver a vida com os olhos do próximo.
São
tempos difíceis para os gentis. Mas, a gentileza pode sempre ser puxada como água
de poço. Basta um esforcinho até atingir a superfície e depois, pronta para
suprir as nossas necessidades.
A
gente nunca sabe qual é a mala que o outro carrega. O quão pesada está, o
quanto de tristeza está guardada, qual a luta a ser travada ou o quanto falta
para percorrer com o peso nas costas. Não há motivos para encher ainda mais de
pedras o caminho e dificultar a passagem daquele alguém. A gentileza tem efeito
dominó, comece por você e veja o quanto os outros serão atingidos. E se não
forem, se alguém parar no meio, não se assuste e não se deixe levar. Apenas
pule uma peça e recomece em outro lugar, todos os dias.
Cada
um carrega consigo uma metrópole caótica interna, os pensamentos rodam em
turbilhão e muitas vezes não conseguimos abrir nossas portas para o ar entrar.
O que tiramos disso é que todo dia é luta, todo dia é dia de se reinventar.
Sendo assim, aquele bom dia dado sorrindo pode ser o que faltava para uma
pessoa não perder a crença da bondade no outro.
Via: Revista Pazes
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