Nossas digitais ficam tatuadas na alma de quem tocamos.



Imagine se você tivesse a possibilidade de assistir, num telão, o depoimento de todas as pessoas com as quais você conviveu ou teve algum contato, ainda que breve, mas que teve algum impacto na vida delas. O que você acredita que iria prevalecer, os comentários que expressam gratidão ou ressentimento pela forma como você agiu com elas?
O fato é que nunca teremos a real dimensão do que deixamos, como uma espécie de digital, na alma das pessoas que tocamos com as nossas palavras, com o nosso exemplo, com o nosso olhar e com as nossas atitudes. Nunca saberemos, ao certo, se aquela frase áspera que dissemos num momento de irritabilidade feriu alguém de forma profunda, embora, para nós, tenha sido algo “da boca para fora”. Nunca saberemos a diferença que fizemos quando falamos ao jovem desanimado e que tinha largado os estudos que ainda dava tempo, sim, de recomeçar de onde parou e reescrever a história dele.

Não duvidemos disso, em algumas situações, somos comparados aos anjos na vida de algumas pessoas, que pode ser aquele estranho que nos pede uma informação no meio da rua e que, por alguma razão, nos expõe um pouco da sua dor.
Aquela pessoa que você encontra chorando no meio da rua e que se compadece dela, que empresta seus ouvidos, ainda que por um breve instante e que despede-se dele dizendo algo como: “não se sinta culpado por algo que não dependia somente de você”. Talvez, uma frase dessa tenha o poder de retirar daqueles ombros um peso terrível.
São tantas vidas que cruzam o nosso caminho, não é? Vidas que deixam um pouco de si e levam um pouco de nós, nas palavras de Antoine de Saint Exupéry. Acontece de lembrarmos de algumas pessoas, e, imediatamente, o sorriso nos vir aos lábios e a nossa alma emanar aquela gratidão gostosa.
Essas pessoas, embora nem sempre tenham a consciência disso, deixaram em nossa alma uma ‘tatuagem’ que nunca será apagada. Suas digitais ficaram em nós, em forma de gratidão ou de encantamento.
Existem, também, aquelas pessoas que deixaram em nós, uma tatuagem que lutamos para apagar, uma marca nada bonita. Lembrar dessas pessoas é o suficiente para entristecer o nosso semblante e nos deixar angustiados. Certamente, nem todas elas terão a consciência do estrago que fizeram na vida de alguém, afinal, já afirma o ditado popular: “quem bate esquece”.
Se fosse possível tirar uma radiografia da nossa alma, lá estariam registradas um monte de ‘digitais’, boas e ruins. Estariam tatuados os abraços curadores, as frases que motivaram, os olhares acolhedores os sorrisos encorajadores e os perdões liberados e recebidos.
Seriam encontrados, também, as digitais malignas, dos tatuadores perversos. Sobre as últimas, talvez elas não possam ser apagadas, mas podem, perfeitamente, ficar embaçadas em meio às digitais do amor e da benevolência que ficaram em nós. E, caso elas sejam maioria, corra em busca de pessoas iluminadas que possam deixar as digitais delas em você, ainda dá tempo.
Misture-se às pessoas benevolentes, contagie-se com a generosidade delas e seja, também, um tatuador de almas, distribua o amor que recebeu. Distribua com a certeza de receber de volta, de forma multiplicada, sim, o amor é assim: multiplica-se sempre que é dividido.
Seja o motivo da gratidão de alguém, seja o motivo da oração, seja a razão do riso que surge apenas porque você apareceu nas lembranças dele. Em última hipótese, se entender que não tem nada de edificante para dizer a alguém, oferte o seu silêncio, ele pode valer ouro em determinadas circunstâncias.

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