Soube da notícia de que um conhecido havia partido
dessa vida. De repente, surpreendentemente, sem nenhum tipo de aviso prévio,
como a morte costuma fazer.
Fiquei imaginando se as coisas seriam diferentes na
vida dele, se ele soubesse que partiria em breve. Imaginei se as coisas seriam
diferentes na minha vida, e na vida de todos nós; se não deveríamos estar mais
atentos ao fato de que a vida vai terminar para nós também.
Será que temos amado em quantidade suficiente? Será
que temos feito o nosso melhor e aproveitado a companhia das outras pessoas? Ou
partiremos deixando para trás aquela sensação de que deveríamos ter feito tudo
de forma diferente?
Muito provavelmente a resposta é a de que não
estamos vivendo da melhor forma possível. Poderíamos estar vivendo com prazer e
com mais qualidade. Poderíamos estar pondo freios em nossa preocupação
exagerada e nessa vontade de partir pra briga, contra tudo e contra todos, que
temos sentido.
Deveríamos refrear nosso velho hábito de deixar
coisas importantes para depois, simplesmente porque não temos nenhuma garantia
de que o depois virá. E parar de alegar
falta de tempo, principalmente se ele estiver sendo mal gasto.
Aprender a não guardar roupa, calçados e louças para
ocasiões especiais. O momento especial é agora, porque ele nos garante vida
para desfrutá-lo. Poderíamos parar de economizar o que temos de bom dentro de
nós. E não deixar a vida, os amores e os sonhos pra depois. Eles não precisam
ficar tanto tempo na sala de espera.
Tampouco podemos desperdiçar o tempo de agora,
porque ele é precioso demais para isso. O ontem não regressará e talvez o
amanhã não chegue até nós.
Engana-se quem pensa que essas verdades exigem
pensamentos negativos. Mas é preciso que fiquemos em estado de alerta e
deixemos despertar em nós um desejo irrepreensível de amarmos a vida e tudo o
que ela nos oferece.
Que o prazo de validade determinado que nos foi
imposto desperte em nós o desejo de diminuir os conflitos e de ter mais sossego
interior. Busquemos a sensação reconfortante de ter nossas almas desfrutando de
afeto e de tranquilidade; que saibamos reassumir o controle da nossa vida, sem
sermos marionetes para o teatro sentimental de ninguém.
Não queiramos que as circunstâncias da vida
tragam-nos arrependimentos por não termos sabido conduzir nossos dias. Amemos o
máximo possível: a nós mesmos e às outras pessoas. Tenhamos apreço por quem
somos e respeito por quem fomos. Planejemos o futuro de forma que possamos
aproveitar bem todas as oportunidades que vierem, enquanto vierem.
Andemos de cabeça erguida, sem culpas
desnecessárias. Esforcemo-nos para encarar todos os fatos com leveza e com a
certeza de que existe uma lição a ser aprendida em cada acontecimento.
Desfrutemos da vida com a coerência de quem sabe
que um dia ela terminará. E torçamos para que “o acaso não se canse de nos
proteger, caso continuemos a andar tão distraídos”.
Alessandra Piassarollo
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