Ela
acostumou-se a sonhar. Acostumou-se a buscar uma versão mais livre e mais
coerente de si mesma nos sonhos. Descobriu que pode dar trégua para suas
próprias batalhas, culpas e aflições quando adormece e mergulha em seus
devaneios.
Não
foi sempre assim. Seus sonhos já foram extensão de suas condenações, medos e
inadequações. Mas hoje são um refúgio seguro, acolhida doce após um dia
cansativo, descanso para a rigidez do espírito e gravidade da alma.
Todas
as manhãs ela põe sua roupa de viver. Assume compromissos, resolve pendências,
cumpre metas, encara desafios. Não se mete em confusões, não dá bandeira para o
ex, é sensata nas postagens no Face e Instagram. Responde às mensagens do
Whatsapp com emojis escolhidos a
dedo, manda áudios interessantes e tem sempre uma novidade na ponta da língua.
Mas à noite... ah, à noite... ela se despe. Toma uma taça de vinho e remove
cada uma de suas máscaras de viver. Não se cobra tanto, se permite sentir
saudade, reconhece aquilo que lhe faz falta e o que lhe aquece a alma. Dá uma
trégua para sua mania de perfeição, para sua incapacidade de dizer “não”, para seu desejo de ser aceita a
qualquer custo. À noite ela descobre que pode ser amada pelo que é de fato, e não
pelas máscaras que carrega.
Aos
poucos ela tem aprendido a não deixar os sonhos na cama. Tem aprendido a
conciliar rigidez com leveza, razão com emoção, proteção com vulnerabilidade e
eficácia com perdão. Tem contrariado seus medos, dado uma rasteira em suas
inseguranças, se despedido de sua mania de agradar a todos se desagradando. Sua
roupa de viver já não pesa tanto, seu maior compromisso é consigo mesma.
Ela
continua sendo mais livre nos sonhos, mas sabe que aos poucos irá assumir mais
doçura que culpa e mais encantamento que amargura. Tem dado risada de seus
tombos e não se culpa quando a mensagem do Whatsapp é visualizada e não
respondida. Já não espera reciprocidade de todo mundo, e nem por isso se
entristece. Tem mandado algumas pessoas ‘praquele lugar’ e deletado alguns
papéis que não quer mais representar.
Ela
sabe de seu valor, de suas lutas e vitórias, e isso lhe assegura que não
precisa provar nada pra ninguém. Quem tiver a chance de conhece-la de verdade
irá saber que ela tem suas dificuldades, estranhamentos e manias, mas que,
acima de tudo, ela não desiste de ser feliz...