Quando
rompemos com uma relação doente, ficamos tão absorvidos com as sensações de
abstinência, vazio, injustiça e perda de nós mesmos, que não percebemos a
passagem do tempo. O dia está lindo ou chove, pouco importa, quando você lida
com a dor de uma perda, uma força irresistível toma conta do seu ser e para
tudo, deixando-o submerso no luto e no caos. E ali permanece, dias, meses ou
anos, sem que você se dê conta de que o mundo não para porque seu coração
quebrou.
Já
rompi com gente que eu percebia como ‘um grande amor’. Sem saber que amor
verdadeiro não traz dor, vive-se esses momentos de forma dolorosa, em que
parece se abrir embaixo dos pés um buraco negro, cujo fundo você não consegue
alcançar, e segue, numa queda livre e impiedosa que paralisa tudo, entorpece e
traz para fora de si o que há de mais frágil, quebrável, vulnerável, minúsculo.
Quando
o coração da gente quebra e a gente paralisa, deseja que o mundo também pare
para nos acudir, nos deitar no colo. Mas não. Enquanto você amarga suas perdas,
sem pernas para caminhar, sentindo uma dor tão intensa que não lhe permite a
respiração, as crianças brincam lá fora, o trânsito continua intenso, pessoas
batem cartão, aviões decolam e aterrissam, os capítulos da novela avançam e
você se dá conta que nada parou diante dos pedaços esparramados do seu coração.
Sua
dor pouco parece importar para o mundo ao seu redor. Você se sente sozinho e
incompreendido. Enfurecido, você está disposto a romper com o mundo, pois
quando mais precisou, ele parece ter rompido com você. Então, é nesse momento
que eu lhe convido para olhar o relógio. Não, não lhe convido a esquecer sua
dor, minimiza-la ou fazer de conta que não está ali. Lhe convido a observar o
relógio e se perguntar se você valoriza o tempo. O tempo que passou, o tempo
que virá, mas principalmente, o tempo que a gente chama de agora, tão rápido e
tão fugaz que, logo depois de ser chamado assim, já tem outro nome, porque já
passou.
O
que está fazendo com o seu tempo agora? Está deitado deprimido, sentindo pena
de si mesmo e querendo alguém que lhe mostre a saída do buraco negro em que
caiu? Pois bem, a saída está exatamente aí, diante de si. Está naquilo que está
vivendo: no agora. Está nessa dor que está sentindo e o que deseja fazer com
ela. Está na sua decisão de frear a queda livre e impulsionar-se para cima,
porque, de fato, esse buraco não tem fundo, mas tem uma entrada, lembra?
A
saída está no conectar-se com a brevidade e fragilidade da vida. O que você
deseja para si? Estou certa de que é algo MUITO maior do que uma relação que há
muito deixou de ser o que sonhou. Uma relação que trouxe para fora o pior de
si, não pode ter o poder de juntar os pedaços de seu coração e lhe devolver a
vontade de viver. Manter-se FORA, sim.
A
saída está no valorizar do tempo e na consciência de que não estamos aqui para
sempre e, talvez, alguns entre aqueles que estão lendo esse texto ou até mesmo
eu, encontre no dia de hoje o seu último dia de vida. Como você quer vivê-lo?
Quer ser lembrado como aquele que tinha o coração tão quebrado, que descansou
ou como alguém que, mesmo carregando um coração em pedaços, enchia os olhos da
beleza da vida e se fortalecia através de suas dores? Ligarão seu nome à fraqueza
ou à resiliência?
Valorize
seu tempo, revertendo em sua direção todo o amor, a dedicação, a
disponibilidade, a generosidade que revertia em favor de quem não valoriza nada
porque nada tem para oferecer de valor. Valorize o tempo, usando-o para buscar
dentro de si essa pessoa cheia de sonhos que murchou na constância de uma relação
infeliz, que só foi boa, no castelo de sua imaginação.
Se
achar que hoje ainda não consegue começar a cuidar de você, reflita sobre isso:
Você
já viu o que acontece quando você rega uma planta que esqueceu de regar por
dias a fio? Se recupera quase que instantaneamente. Já viu o que acontece
quando, mesmo vendo que ela murchou por falta d’água, você passa por ela e não
rega? Morre e vira lixo. Você não é lixo, você é uma pessoa de valor para
muitas outras. Regue-se com amor, carinho e cuidados e, ao perceber seu próprio
desabrochar, verá quanto valorizar esse tempo que gasta inerte, na dor e no
luto, pode fazer por você.
Via: Resiliência Mag
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