“Não
é apenas o sangue que une a família: todas às coisas que acontecem
individualmente interliga-nos. O que ocorre com um, recai sobre os demais.
Certamente, nós não escolhemos tecer essa família nesta vida, mas cada um de
nós é um fio na mesma tecedura e todo o mal que atingir os fios, sempre
enfraquecerá toda a teia.”
Clara
Dawn
Todo
mundo tem uma família. Ter uma é algo fácil: todos nós temos uma origem e
raízes. Entretanto, mantê-la e saber como construí-la, alimentando o vínculo
diariamente para conseguir que ela se mantenha unida, já é uma outra questão.
Todos nós dispomos de mãe, pais, irmãos, tios... Às vezes de grandes núcleos
familiares com membros que, possivelmente, já deixamos de ver e com quem não
convivemos. Precisamos nos sentir culpados por isso?
A
verdade é que, às vezes, sentimos uma certa obrigação ‘moral’ de nos darmos bem
com aquele primo com quem compartilhamos pouquíssimos interesses, e que tantos
desprazeres nos causou ao longo de nossa vida. Pode ser que o sangue nos una,
mas a vida não nos encaixa com nenhuma peça, então nos afastarmos ou mantermos
um relacionamento justo e pontual não deve ser motivo de nenhum trauma.
Porém,
o que acontece quando falamos dessa família mais próxima? De nossos pais ou
irmãos?
O vínculo vai além do sangue
Chegamos
a este mundo como se tivéssemos caído de uma chaminé. Neste momento, nos vemos
unidos a uma série de pessoas com as quais compartilhamos o sangue e os genes.
Uma família que nos fará caber em seus mundos particulares, em seus modelos
educativos, que tentarão inculcar seus valores, mais ou menos certos...
Às
vezes, tende-se a pensar que ser família supõe compartilhar algo além do sangue
ou mesmo uma árvore genealógica. Há quem, quase de forma inconsciente, acredita
que um filho deve ter os mesmos valores dos pais, compartilhar uma mesma
ideologia e ter um padrão de comportamento semelhante.
Há
pais e mães que se surpreendem por ver o quão diferentes os irmãos podem ser
entre si... Como pode ser assim se são todos filhos de um mesmo ventre? É como
se dentro do núcleo familiar tivesse que existir uma harmonia explícita, onde
não existem excessivas diferenças, onde ninguém deve sair do ‘padrão’ e tudo
está controlado e em ordem.
Entretanto,
algo que devemos saber claramente é que nossa personalidade não é 100%
transmitida geneticamente; podem ser herdadas algumas características e, sem
dúvidas, ao viver num entorno compartilhado iremos compartilhar uma série de
dimensões. Mas os filhos não são moldes dos pais, e os pais nunca vão conseguir
que os filhos sejam como suas expectativas querem.
A
personalidade é dinâmica, é construída no dia a dia e não atende às barreiras
que, às vezes, os pais ou as mães tentam impor. É aí que, muitas vezes,
aparecem os habituais desapontamentos, as ‘colisões’, as desavenças...
Para
criar uma ligação forte e segura a nível familiar, devem ser respeitadas as
diferenças, promover a independência ao mesmo tempo que a segurança. É preciso
respeitar a essência de cada pessoa em sua maravilhosa individualidade, sem
colocar muros, sem censurar cada palavra e comportamento...
Segredos das famílias que vivem em
harmonia
Às
vezes, muitos pais veem como seus filhos se afastam do lar familiar sem
estabelecer mais contato. Há irmãos que deixam de se falar e famílias que veem
quantas cadeiras vazias jazem no silêncio da sala de casa.
A
que se deve isso? Está claro que cada família é um mundo, um micromundo com
suas regras, suas crenças e, também, com as cortinas abaixadas onde só elas
mesmas sabem o que aconteceu no passado, e como se vive no presente.
Entretanto,
podemos falar disso baseados em alguns eixos básicos que devem nos fazer
refletir.
–
A educação tem como a finalidade dar ao mundo pessoas seguras de si mesmas,
capazes e independentes, para que possam alcançar sua felicidade, e, por sua
vez, saibam oferecê-la aos demais. Como se consegue isso? Oferecendo um amor
sincero que não impõe e que não controla. Um carinho que não censura como
alguém é, pensa ou age.
–
Não devemos responsabilizar sempre os demais pelo que acontece com a gente. Não
é necessário culpar a mãe ou o pai por ainda hoje em dia, você se sentir
inseguro e incapaz de fazer determinadas coisas. Ou aquele irmão que, talvez,
sempre foi melhor atendido ou cuidado do que nós mesmos.
Está
claro que, na hora de educar, sempre são cometidos alguns erros. Mas nós também
devemos ter o controle de nossa vida e saber reagir, ter voz, e saber dizer “não”, e acreditar que somos capazes de
empreender novos projetos com segurança e maturidade, novos sonhos sem sermos
escravos das lembranças familiares do ontem.
Ser
família NÃO supõe compartilhar sempre as mesmas opiniões e os mesmos pontos de
vista. E nem por isso devemos julgar, censurar e, menos ainda, desprezar.
Comportamentos como estes criam distâncias e fazem que, no dia a dia,
encontremos maior lealdade nos amigos do que na família.
–
Às vezes, temos a ‘obrigação moral’ de ter que continuar mantendo contato com
parentes que nos fazem mal, que nos incomodam, que nos censuram. São família,
não cabe dúvida, mas devemos ter em conta que o que importa de verdade nessa
vida é ser feliz e ter um equilíbrio interno. Uma paz interior. Se estes ou
aqueles familiares prejudicam nossos direitos, devemos impor distância.
A
maior virtude de uma família é aceitar a si e aos outros tal e como são, em
harmonia, com carinho e respeito.
Via: Portal Raízes