Reza
a lenda que existem homens que tem medo de mulher segura. Que correm dez léguas
quando veem uma moça que divide a conta do restaurante, sai sozinha sem
precisar de guarda-costas, dorme o sono dos justos mesmo que não haja uma
conchinha aconchegante e se equilibra no salto agulha sem precisar de uma mão
firme que a auxilie.
Desconfio
– apenas desconfio, porque estou longe de sabê-lo de fato – que os únicos
homens que perpetuam este discurso são aqueles que não compreendem o próprio
potencial. Um homem inteligente não se sente atraído pela mulher que se
contenta em estar ‘por trás’ dele. Ele compreende que grandes mulheres caminham
ao lado. Um homem de verdade não se importa com o fato de sua mulher ganhar
mais – porque ele compreende uma verdade tão simples quanto ininteligível para
alguns: relacionamentos não são olimpíadas.
Ninguém
se relaciona para provar quem tem mais beleza, mais dinheiro ou mais
autoconfiança. Não se trata de uma corrida pra saber quem se importa mais, quem
precisa mais, quem valoriza mais. Um companheirismo genuíno não deixa espaço
para tais mediocridades.
Ele
compreende a liberdade de sua companheira para ser quem ela é. Veja bem, ele
não concede esta liberdade – porque esta já pertence a todos nós, homens e
mulheres, por direito – ele apenas a compreende, coisa que muitos simplesmente
não conseguem. Um homem verdadeiramente admirável não se importa em marcar
território. Ele não liga se sua companheira sai sozinha, bebe ou mostra parte
do corpo. Ele compreende, sobretudo, que se importar não vai adiantar, porque
nós pertencemos a nós mesmos. Todos nós.
Grandes
homens não se importam se suas companheiras são belas, ou admiradas, ou
desejadas demais. Ao contrário, sentem-se felizes por terem sido escolhidos –
desde que respeitados, evidentemente. Eles não fazem questão de esconder suas
companheiras dos olhos gaviões, e nem de exibi-las como troféus – eles apenas
desfrutam da sorte de um amor tranquilo, em que cada um se deixa à vontade, em
que cada um compreende ao outro como a si mesmo.
São
lamentáveis estas pessoas que vivem tentando conter seus companheiros, vivem
tentando evitar que eles conheçam a vida porque, conhecendo-a, descobrirão o
quanto há coisas infinitamente melhores do que a relação enfadonha que vivem.
Uma pessoa que confia no próprio taco – literalmente, em alguns casos –
certamente será sempre a prioridade. E se não o for, saberá prosseguir, com a
certeza de que um dia o será para alguém.
Os
homens que admiramos querem para nós a mesma liberdade que querem para si. A
mesma evolução, o mesmo sucesso, os mesmos direitos. Os homens que admiramos
lutam conosco. Não nos travam o riso, não nos ajeitam o vestido, não nos
controlam o porre ou o vocabulário, não se sentem no direito de nos exigir
comportamento padrão. Eles apenas nos deixam estar.
Chegará
o dia em que medir forças com a nossa liberdade será um fiasco na vida amorosa
de qualquer pessoa. Porque nós, cada vez mais, optamos por nós mesmos.
Portanto, se queres ser este homem, que nos acelera o coração e nos instiga os
sentidos, ouça o bom conselho do Chico: deixe a menina sambar em paz.
Via: EOH