De
repente a gente acorda, as marcas de expressão já são mais difíceis de serem
escondidas, os cabelos brancos se misturam aos pretos e nós somos apenas o
acúmulo de uma vida vazia. Vidas que não vibraram, porque preferiram se ‘adequar’.
Vidas que sorriram pouco, porque só sorriam quando outros sorriam. Vidas secas,
porque não foram molhadas por lágrimas de amor.
Conforme
o fim do ano se aproxima, um emaranhado de sentimentos se mistura dentro de
nós, de modo que nos sentimos angustiados diante da dualidade destes
sentimentos que acumulamos, e que encontram nessa época do ano o seu principal
florescimento. Diante disso, devemos, antes de tudo, considerar o que é essencial
para que nos mantenhamos vivos: a felicidade.
Não
existe meio de definir o que faz alguém feliz, assim sendo, as inúmeras
fórmulas de felicidade que o mercado oferece constantemente, através da
publicidade, não se aplicam ao que entendo como felicidade, uma vez que todo
ser humano carrega uma subjetividade e, portanto, a sua felicidade estará
condicionada a fatores intrínsecos à sua personalidade.
Posto
isso, submeter-se a leis do mercado, apenas para enquadrar-se ao protocolo
social, não é felicidade ou, pelo menos, não a toca no seu âmago. Ser feliz
requer coragem para que se viva do modo que lhe apraz, isto é, do jeito que o
faça verdadeiramente se sentir bem. Contemporaneamente, observamos que, ainda
que se pregue ininterruptamente sobre liberdade, as pessoas estão cada vez mais
automatizadas e padronizadas, de maneira que buscam atender ao protocolo social
supracitado, mesmo que isso não os faça feliz.
Ao
vivermos de acordo com o padrão, deixamos de ser nós mesmos e passamos a ser
representações frágeis de algo que não faz o nosso coração mais forte. O grande
problema é que com o passar do tempo, vamos nos afastando mais e mais de nós
mesmos, até que nos tornemos estranhos do eu que outrora existiu. Mais: o tempo
não volta para que possamos preencher as lacunas que deixamos ou para consertar
aquilo que devíamos ter feito com mais afinco.
Esse
sentimento de impotência diante do tempo, que é natural a qualquer pessoa,
piora-se em relação a pessoas que vivem como verdadeiros soldados adestrados,
pois, na medida em que nos damos conta de que a cada ano as areias da ampulheta
diminuem, percebemos que as nossas vidas não passam de um rascunho feito como
outro qualquer.
Mas,
será que as nossas vidas não são mais valiosas que um simples rascunho? Será
que a subjetividade que nos forma, as nossas idiossincrasias, a nossa beleza,
não merecem ser consideradas e mostradas nos traços do nosso existir? Parece-me
que sim e por isso, devemos aproveitar cada instante que possuímos para que
possamos deixar a nossa marca no mundo. Sim, cada instante, já que não sabemos
quando esse instante será o último e porque o tempo, por mais que seja clichê,
passa muito depressa.
De
repente a gente acorda, as marcas de expressão já são mais difíceis de serem
escondidas, os cabelos brancos se misturam aos pretos e nós somos apenas o
acúmulo de uma vida vazia. Vidas que não vibraram, porque preferiram se ‘adequar’.
Vidas que sorriram pouco, porque só sorriam quando outros sorriam. Vidas secas,
porque não foram molhadas por lágrimas de amor.
Para
que seja mais que um simples rascunho, não se mantenha em silencioso desespero.
Grite a pessoa que há dentro de você. Não se preocupe tanto com as opiniões
alheias, para que não se torne alheio a si próprio. Seja inteiro em tudo que
faz, sem máscaras, para que seja terno tudo que toques. A brevidade da vida é o
que a torna valiosa, assim, aproveite-a, sendo você e não o que querem que você
seja. Somente, dessa forma, terá colorido suficiente para fazer da tua vida um
belo quadro, com traços que somente serão encontrados nele, pois um ano que se
encerra é um ano que se vai, sobretudo, quando voltamos e nada conseguimos
enxergar.
A
felicidade está para aqueles que saem da vida, mas deixam sua história, contada
em primeira pessoa, em alto e bom som. Sê corajoso para dar traços fortes a tua
vida, porque se fizeres da tua via apenas um rascunho, como disse um tal de
Mário – “Poderás não ter tempo de
passá-la a limpo”.
Via: Fãs da Psicanálise
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