Eu
tenho percebido um comportamento intrigante por parte de algumas pessoas. Há
tempos, venho analisando isso. Elas são sempre solícitas e solidárias na hora do
sofrimento. Elas são especialistas em enxugar lágrimas e proferir palavras de
conforto àqueles que, por alguma razão, compartilham sua dor com elas. Contudo,
quando as mesmas pessoas, que foram acolhidas, se refazem e voltam a sorrir,
aquelas que as acolheram se escondem, ficam silenciosas e, passam, inclusive, a
impressão de que estão ressentidas.
Seria
essa, uma impressão equivocada da minha parte? Será que você, querido(a)
leitor(a), já vivenciou algo semelhante? Ou seria coisa da minha cabeça? Imagine
o seguinte contexto: uma pessoa foi demitida de uma hora para outra e ficou sem
chão. E a depressão a visitou no meio dessa dificuldade. Então, alguém muito
próximo a ela mostrou-se profundamente comovido e solidário, demonstrando
atitudes de encorajamento e otimismo. A pessoa em sofrimento sentia-se
profundamente amparada e grata pelo apoio recebido. Daí as coisas foram se
ajustando, a pessoa arregaçou as mangas e foi à luta. Ela foi admitida num novo
emprego e a fase difícil ficou para trás.
Que
maravilha, né? A pessoa, sentindo-se vitoriosa, saiu, eufórica, atrás da pessoa
que tanto a apoiou na fase das vacas magras. Ela queria compartilhar a gratidão
dela, ela queria agradecer pelo apoio recebido, enfim, ela desejava ofertar
sorrisos àquele que enxugou suas lágrimas. Contudo, nessa hora, estranhamente,
algo soou contraditório. Alguma coisa não se encaixou. A atmosfera mudou de
repente. A pessoa que enxugou as lágrimas mostrou-se ‘entalada’ diante do
contentamento da outra. A alegria de quem superou uma fase difícil não
encontrou acolhimento no coração de quem demonstrava solidariedade nos dias
sombrio.
Existem
casos em que a ‘amizade’ fica estremecida ou acaba se desfazendo. Isso porque o
sentimento de superação de um passa a incomodar demais o outro. Muito estranho,
não é mesmo? É como se a pessoa que se diz acolhedora se sentisse afrontada ao
ver o ‘coitadinho’ alçando voos. Ao que parece, para algumas pessoas, é
prazeroso ter alguém vitimizado ao lado. Como se isso representasse o
empoderamento delas. Elas sentem-se poderosas ao enxugar lágrimas, contudo,
sentem-se frustradas ao perceber que o outro passou a caminhar com as próprias
pernas.
Essa
postura pode ser percebida nas redes sociais, quando você posta algo triste ou
doloroso, os comentários de apoio e solidariedade ‘bombam’. O oposto do que
ocorre quando você posta algo feliz. Nessas horas, a maioria parece fazer cara
de paisagem e ignora mesmo. Na realidade, o que fica claro é que notícia boa
não dá ibope. Detalhe: as pessoas que ficam silenciosas diante de uma boa
notícia a seu respeito, são as primeiras a espalharem acontecimentos que te
prejudicam. Espalham e ainda acrescentam mentiras para agravar ainda mais a
situação.
Enfim,
são comportamentos que fazem parte da complexidade das relações humanas.
Contudo, é, por demais, desconcertante perceber que aquilo que tanto nos alegra
causa desconforto em quem acreditávamos comemorar conosco. Há casos em que nos
sentimos culpados por estarmos felizes, pois a postura do outro provoca isso em
nós. Então, optamos por sorrirmos sozinhos ou moderarmos o som da nossa risada
para não afrontar o outro.
Entretanto,
devemos carregar a certeza de que tudo o que sentimos e expressamos entra em
sintonia, por afinidade, nesse universo. Todos os sentimentos humanos funcionam
como um ímã. Não devemos nos intimidar com a mesquinhez que se manifesta ao
nosso redor. Devemos, sim, pensar grande e compreender que a nossa felicidade
há de ecoar em outros corações, ainda que seja nos corações de pessoas que não
conhecemos. E essa vibração nos é devolvida e multiplicada.
Via: Conti Outra
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