Acredito
que o verbo desistir seja bastante mal interpretado no nosso cotidiano. Isso
porque, ele sugere, ainda que superficialmente, uma conotação de fraqueza e
fracasso ao sujeito que o conjuga. Seria o sentido oposto de prosseguir ou
persistir. Entretanto, precisamos de muita cautela ao ouvirmos um indivíduo
falar de suas desistências. Cautela no sentido de não interpretá-lo de forma
equivocada, pois muitas vezes, desistir foi o seu maior ato de bravura.
Engana-se quem, apressadamente, infere que quem desistiu fracassou. Nem sempre
isso é verdade. Desistir também pode ser uma atitude heroica, afinal, por trás
de muitas desistências há muito de altruísmo, tentativa de se resgatar e,
principalmente, um desejo genuíno de ser feliz.
A
jovem mulher, que desistiu de uma carreira profissional para se dedicar ao
casamento e aos filhos, não pode ser vista como uma fracassada e sim como uma
pessoa altamente altruísta, capaz de anular alguns de seus sonhos para dar o que
tem de melhor à sua família.
Por
falar em mulher, e o que dizer daquela que optou por desistir de uma relação
abusiva, na qual era muito infeliz? Talvez o seu meio social a julgue como
irresponsável ou como aquela que fracassou no casamento, ao passo que desistir
daquela relação foi seu maior ato de coragem em busca da sua dignidade. Sim, ao
dizer não para uma relação infeliz ela abre espaço para receber uma relação
satisfatória e plena. Palmas para ela!
Desistir,
de algo ou de alguém, nunca foi fácil e nunca será. Por mais aversivo que seja
o contexto, o indivíduo se percebe preso ali, como uma aranha na sua teia.
Recomeçar é assombroso no sentido de que, muitas vezes, estamos vulneráveis,
sozinhos, sem apoio e socialmente ‘apedrejados’. Somente os fortes conseguem
desistir daquilo que os prejudica. Desistir das drogas, desistir das atitudes
autodestrutivas como os abusos alimentares, desistir da preguiça de se
exercitar, desistir de se esconder na sombra de alguém e mostrar sua própria
personalidade, enfim, são tantas desistências heroicas, né?
Uma
coisa é fato, a desistência nos salva todos os dias, assim como nossas
escolhas. E é encantador entender que, enquanto estamos vivos, podemos nos
perder e nos encontrar nesse emaranhado de escolhas e desistências. E assim
vamos bordando as nossas próprias histórias, sem jamais desistir de acreditar
que somos capazes de encontrar aquilo que faz a nossa alma sorrir com
autenticidade.
Via: Portal Raízes
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