Tem
gente que não se importa em ficar a vida inteira no mesmo lugar, tem gente que
não consegue nem ficar oito horas em uma mesma sala. Tem gente que nasceu com
raízes, outros com asas. Você é do tipo que vai ou do que fica?
O
mundo está dividido em diversos tipos de pessoas: as que gostam mais do mar, as
que preferem campo. As que esperam o inverno, as que aguardam com afinco o
verão. E existem também as que ficam e as que vão.
Não
é fácil ser do tipo que fica, nem do tipo que vai. Por vezes, quem fica sente
vontade de ir, já quem vai, sente uma imensa vontade de ficar. É difícil
entender que não há possibilidade de ter asas e raízes ao mesmo tempo, ou então
jogar a âncora na areia e içar velas. Você faz ou um ou outro. Algumas raras
pessoas conseguem mudar, afinal estamos em eterna mudança, mas é difícil
aquietar algo que já vem dentro da gente.
Aqueles
que ficam sentem-se bem assim, e abandonar – pessoas, lares, cidades, lembranças,
é algo muito difícil. Quando a vida os incita a ir, eles preferem continuar
ali. Por vezes, são chamados de acomodados – anos no mesmo emprego, anos com a
mesma pessoa, nunca deixou sua cidade. E a vida, e o mundo? Esses
questionamentos podem mexer com eles, atiçar algo em seus corações, mas quando
olham a sua volta, apenas entendem. Podem ir, desde que a condição seja voltar,
rapidamente. Eles querem ficar.
Ah,
as pessoas que vão... Deixem-nas ir. Não significa que elas não amem, não
sintam saudades, não se importem – apenas o coração delas é grande demais, e
elas precisam sempre estar em expansão. Quando enclausuradas, sofrem muito. Não
cabem em escritórios, não cabem em ternos, não cabem em si – movimento é a
palavra de suas vidas. Alguns acham que esse tipo de pessoa é indecisa,
inquieta e até frustrada, pois parecem estar sempre em busca de respostas. Não.
Na verdade, pessoas que vão não se importam tanto com as respostas – seu
combustível é feito pelas perguntas. Questionam o tempo todo, pensam o tempo
todo, observam o tempo todo. Encantam-se pela quantidade de maravilhas que o
mundo pode oferecer, seja em uma cidade da moda como Paris ou num boteco
abandonado de esquina.
Acontece,
por vezes, de pessoas que ficam se apaixonarem por pessoas que vão. Daí a
vontade de içar e ancorar, criar raízes e voar, correr e ficar parado. Eu
poderia aqui escrever conselhos, poderia dizer fica, vai, espera, aceita. Mas
nada posso dizer. O amor é movimento, energia, é vida pulsando dentro e fora de
nós, e exatamente por isso é muito pessoal. A única coisa que me arrisco em
falar é: sinta. Se permita. Amplie o sentimento, não guarde para si. E aceite o
tipo de pessoa que o outro é também. “É
difícil aprisionar os que tem asas”, disse o poeta. Também é difícil
arrancar os que são feitos de raízes.
Via: Obvious