A
fugacidade da vida é algo fascinante e ao mesmo tempo aterrorizante. Em dado
momento, estamos fazendo planos, sonhando com o futuro e, de repente, anos já
se passaram e todo aquele entusiasmo de outrora já não existe. Sendo assim,
estamos sempre correndo contra a finitude do tempo, buscando de algum modo,
impedir que os sinos toquem. Dada a sua finitude, a vida, portanto, deve ser
valorizada, já que é isso que lhe confere valor. E, quando chego a esse ponto,
questiono-me se estamos vivendo vidas que merecem ser vividas.
Estamos
cada vez mais condicionados a uma vida voltada para o consumo, em que há uma
desvalorização por completo do ser, uma vez que, nesse jogo, a única coisa que
importa é o ‘ter’. Desse modo, passamos a vida acumulando coisas, embora tenhamos
vidas vazias, solitárias e desprovidas de amor.
Estamos
sempre falando, correndo de um lado a outro do palco, como disse Shakespeare, à
procura de plateias que nos escutem. Entretanto, não estamos dispostos a ouvir
ninguém, já que não nos preocupamos minimamente com nada que não gire em torno
do nosso ego, tampouco existe vontade de colocar-se no lugar de outrem,
buscando, de algum modo, sentir a sua dor.
Estamos
sempre fazendo contas, buscando equações que nos tornem mais poderosos e
bonitos aos olhos da sociedade e, assim, transformamo-nos em máquinas que fazem
sempre a mesma coisa, seguindo as regras e ditames determinados pelos símbolos
de sucesso e felicidade. Desse modo, como podemos fazer falta, sendo
completamente iguais aos outros? Sem algo que nos torne únicos? Sem
idiossincrasias?
Estamos
querendo levar vidas importantes e, por isso, cercamo-nos de riquezas e
sorrisos de pessoas que o máximo que conhecem é o nosso nome. Mas isso pouco
importa, quando se está em um carro zero importado, não é? Todavia, ser
importante é ter uma vida que, chegada ao fim, continua existindo nos
sentimentos e lembranças importados por alguém que nos amara.
Estamos
em plena era da conexão, mas vivemos isolados em nossas ilhas afetivas,
protegidos pelos muros do individualismo e cobertos por uma rede wireless de
egoísmo. Não dizemos mais eu te amo, apenas não me ‘delete’. Fingimos que o
mundo é plural, entretanto, a diversidade não possui lugar diante do ódio e da
intolerância.
Estamos
sempre felizes, mesmo que essa felicidade seja esvaziar um Shopping Center, ou
esteja em um comprimido, afinal, não há espaço para a fraqueza em um mundo
repleto de belezas e alegrias. Mas, se algo continua a incomodar, nada que mais
algum divertimento consumista não resolva ou, quem sabe, mais uma pílula da
felicidade.
Diante
disso, volto à pergunta inicial: estamos levando vidas que merecem ser vividas?
Acredito que não, já que, em nome do Deus ‘Mercado’, nós valorizamos apenas
coisas e, assim, ficamos condicionados e adestrados, servindo obedientemente a
um estilo de vida individualizante, egoísta e opressor, o qual renega o que há
de mais divino na vida: a conexão entre duas pessoas, algo que deveria ser a
nossa maior preocupação e a nossa maior riqueza, já que, na vida, o único
troféu que ganhamos é ter o nosso eu ecoando dentro de outro coração. No
entanto, isso é apenas para quem ainda não se transformou em cogumelo e não se
esqueceu, como disse Saint-Exupéry, de que na vida: “Só há um luxo verdadeiro: as relações humanas”.