Saudade
de quando as coisas eram mais simples e não vivíamos sufocados por tantas
complicações. Ou era a gente que não complicava tanto as coisas?
A
vida seguia num ritmo bem mais lento, sem tanta cobrança, com menos movimento.
E nós fazíamos um tempo pra ficar na varanda, só pra assistir o vento balançar
os galhos das plantas que amorosamente colocávamos lá.
A
gente sentia prazer em colocar água na chaleira e observá-la ferver; e depois
apreciar o cheiro do café que subia de dentro da caneca esmaltada, enquanto
esfriava sem ser sacudido. Nesse meio tempo, traçávamos planos menos ambiciosos
que os de agora. Não tínhamos tanto desejo de subjugar o mundo; no máximo pensávamos
em algumas melhoras.
E
na frente das casas, com menos muros e poucas grades, podíamos sentar nos
bancos e conversar. Ou nas praças, ou das janelas. A conversa não era debate e
não ficava revirando os desconfortos de ninguém.
Fazer
um pão, um bordado, jogar cartas e esperar o tempo de cada coisa acontecer.
Fazer bem o que se sabia, sem se preocupar com as coisas que não se fazia bem era
o segredo dessa vida pacata.
E
quando a saudade vinha, a gente pegava a caneta e com prazer escrevia uma carta
àquele alguém. Sem pressa. Com tempo para escolher com apreço as palavras
noticiadoras. E esperava-a ir, como se
tivesse asa, e chegar ao seu destino. Naquele tempo sabíamos que há um momento
certo para tudo acontecer. E compreendíamos esse fato.
Andávamos
de braços dados. Nossos pertences não eram tão cobiçados. Nem a beleza era tão
exigente. Também não gastávamos tanto nosso tempo com notícias dos outros, nem
nos comparávamos tanto.
Ficou
a saudade dos sabores, dos sons mais calmos e dos amores que tínhamos. Amor
pelo sossego, pela calma, pela charmosa harmonia.
Tínhamos
tempo pra deitar na rede, pra ocupar as cadeiras ao redor da mesa, e pra encher
a sala com conversas agradáveis e histórias biográficas. Tínhamos tempo para
nos encontrar. E nos pertencíamos mais.
A
urgência não nos apressava tanto. A paz era vista todos os dias, enquanto
acenava sua bandeira branca em frente ao nosso portão.
Hoje
os tempos não são mais tão calmos. As semanas correm velozes e o giro rápido às
vezes nos entontece. A família, outrora reunida, agora luta com dificuldade
para juntar seus pedaços. Ela já não sabe o que foi feito com o afeto que
deveria fazer-lhe companhia.
Poucos,
nesses dias de hoje, conseguem viver satisfeitos. Não basta mais ser, nem existir.
E a premente necessidade de estar no topo faz novas vítimas a cada amanhecer.
Desaprendemos
a viver. Desnecessariamente gastamos nossa vida com coisas complicadas, e por
vezes sem sentido, simplesmente porque não sabemos aonde as coisas simples foram
parar.
Alessandra
Piassarollo