A
vida é um fio fino e delicado, mas que apesar da sua resistência, um dia irá
romper-se, a despeito do que tenhamos feito para que isso não viesse a
acontecer.
Parece-me
que temos usado com inconsciência, e abusado desse fio como se o momento de
romper não fosse chegar para nós. E sem qualquer cerimônia, atamos nosso fio a
coisas sem importância, que só trarão peso desnecessário e cargas
desconfortáveis.
Temos
embolado nossos fios e produzido um emaranhado de sentimentos, embaraçados e
pouco definidos, que não nos levam a nada e nos deixam isolados, longe dos
afetos verdadeiros.
Mas
a Vida é fibra delgada, tecida com sonhos delicados e emoções refinadas, num
perfeito equilíbrio entre elasticidade e tenacidade. É provida de força, a fim
de suportar o peso das decepções sem se romper, e de flexibilidade, para
resistir ao fogo das paixões nocivas sem consumir-se nelas. Suporta até mesmo o
peso das possibilidades não concretizadas.
Por
vezes quase cede, quando a fibra cansa de ser testada. Mas logo recobra seu
vigor e segue, embora sua consistência tenha sido irrevogavelmente alterada.
Viver
é fio para se desdobrar com cautela. Para não causar danos e nós desnecessários
devemos ser zelosos, sem apressar seu desenrolar e dando tempo ao tempo, para que
as coisas aconteçam devagar.
A
vida prefere ser enlaçada ao que faz sentido, ao que é coerente, mas de vez em
quando adora se aventurar um pouco. Porque um tantinho de aventura não faz mal
a fio nenhum. Nem a ninguém. Ela faz isso pra não se deixar ressecar pelo
tempo, que passa bem rápido e tende a tirar o viço dos seus fios.
Sabedoria
é amarrar os fios da vida a coisas que lhe renovarão as fibras, que lhe trarão
reforço e evitarão rupturas prematuras. Ao que é sadio, honroso e justo mantenha
bem atado o fio da sua vida.
Não
há necessidade de enrolá-la. A vida não gosta de ser enrolada. Ela gosta de ser
esticada, e para frente! Sem nós que lhe atrapalhem o desempenho.
A
vida é um fio fino e delicado. Quer tenhamos feito bom uso ou não, ele irá
romper-se, irremediavelmente, em algum tempo. E na eterna eminência desse
rompimento, ele exige de nós consciência e todo o nosso cuidado.
Alessandra
Piassarollo