“Há
momentos em que desejo fazer o tempo voltar e apagar toda a tristeza, mas tenho
a sensação de que, se o fizesse, também apagaria a alegria.”
Landon
Carter
O
que já se foi, passou. Não temos e nunca teremos o poder de voltar no tempo.
Nenhum momento se repete, os segundos são únicos. Por isso, especiais.
Não
estou falando de toda e qualquer situação. Estou me referindo a algo que
lembraremos, mesmo que tenha passado décadas. Um dia esperado durante anos.
Algo
que aconteceu de maneira inusitada. Do nada, em uma tarde qualquer, de verão ou
de outono.
E
sabe quando nos damos conta disso? De várias maneiras. Até mesmo quando olhamos
antigas fotografias, de um passado distante, que temos saudades.
Lembramos
situações e momentos de pura felicidade. De riso e sorriso fácil.
Atrevo-me
a dizer que algumas fotografias nos despertam até o cheiro e o gosto. Do
abraço, do beijo, do bolo, do vinho. Do perfume. Do tempo e do espaço.
E
naqueles momentos, estávamos lá por inteiro? Fizemos tudo o que deveria ser
feito? Falamos tudo o que deveria ser dito? Entregamo-nos por completo?
Muitas
vezes, chegamos à conclusão que não. Mas agora é tarde, não adianta chorar pelo
leite derramado. O que foi, passou, não volta mais.
Outras
lembranças não são revividas mentalmente por retratos. Não tínhamos máquina
fotográfica naquela hora, ao nosso lado. Esquecemos o celular num canto
qualquer. Ou até tínhamos, mas não nos lembramos de registrar. Ou não quisemos.
Estávamos ocupados demais, apenas vivendo. E essas lembranças também são tão
doces. Guardamos em um cantinho especial de nossos corações. Um cantinho de
fácil acesso e visitação. Guardamos estas lembranças e elas acabam formando a
nossa melhor memória, aquela de fatos únicos que entraram para a nossa
história.
Quantas
vezes, no meio de uma reunião chata ou na fila do supermercado você não se
desligou por completo do mundo real, lembrando alguém que partiu, lembrando
alguém que está distante, lembrando a voz de uma pessoa ao ponto de quase
escutá-la? Sei que não somos só lembranças, somos o presente, a vontade de
fazer diferente na próxima vez, de nos entregarmos mais.
Somos
o presente com todos os seus compromissos e correrias. Somos atropelados por
nossas rotinas, pelo dia a dia. Mas todos nós somos também um pouco de saudade.
Poesia. Nostalgia.
Somos
a saudade descrita por Quintana, que dizia: “O
tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...”.
E
para que não sejamos só saudade, que tal construirmos novas lembranças, hoje ou
amanhã, porém, desta e das próximas vezes, nos entregando por inteiro, não pela
metade?
Via: Resiliência Mag