Sabe
o passado? Esse que você tenta esconder de todas as formas possíveis e quando
ouve um nome que lhe traz lembranças lá daquela época dolorosa finge
indiferença? Esse mesmo. Esse que ao ler ‘passado’ surgiu a sua mente como uma
filmagem e te mostrou coisas que jamais quis ver novamente. Esse que te fez
soluçar arrependimento, vomitar litros de lágrimas, encharcar o travesseiro ou
simplesmente odiar o mundo. Ah, vai, talvez você nem tenha passado por tudo
isso. Vai ver só não foi feliz e ponto, mas, claro, longe de você querer
relembrar tudo. Esquecer. Essa é a palavra que vem à mente logo após uma menção
ao passado.
Minha
amiga, eu vou confessar que eu também já quis destruí-lo da minha memória. Já
até pensei no motivo pelo qual ainda não inventaram um mísero botão ‘delete’
para que a gente possa apertar quando quiser e – pá! – sumiu. Seria incrível,
né? Será, gente?
Imagine
que você sofreu de alguma forma em uma relação amorosa, por causa de alguém e,
hoje, quer que tudo se apague da sua mente. Com a magnífica invenção do ‘delete’
você conseguiu, parabéns! Feliz, você decide viver sua vida e – pá! – se
apaixona novamente (que não é mais novamente e sim a primeira vez de novo,
levando em conta que você já não mais tem a experiência passada) pela mesma
pessoa do passado. Diz aí: vai quebrar a cara novamente? Por que, como vai
saber que aquela pessoa já lhe fez costurar o coração uma vez e que por causa
dela você usou o método inventário para deletar aquela parte da sua memória?
Então, você se decepciona de novo e deleta tudo mais uma vez e...
Onde
isso tudo var dar?
Simples:
em nada. Você não vai saber por onde ir, como vai ser, o que fazer, como tentar
novamente – se for o caso. Quando a gente erra lá atrás, tenta consertar aqui
na frente. Quando a gente traz as bagagens dos erros conosco, traz a base para
novas tentativas. Afinal, não é assim que a gente aprende? Errando? Errar é uma
causa e causas servem para inspirar ações. Nossas ações dependem das nossas
causas que dependem dos nossos erros e acertos. É preciso pensar sobre como um
erro pode ser uma grande oportunidade de um acerto muito maior. Pensar que os
erros podem/devem justificar o amadurecimento. E o passado também.
Nós
crescemos e vamos atolando lembranças na alma, na memória, na vida. Nós
atolamos em novas fases da vida e, mesmo que não pareça, consultamos o
histórico da nossa existência para encontrar, juntamente com as novas
aprendizagens, uma saída. É assim que a gente vai virando gente, ora. Quando
você vê alguém sorrir, tenha certeza, houve momentos ruins para aquela pessoa
também e são esses momentos, todos eles, que a transformaram em quem hoje ela
é. Nós somos feitos das experiências que vivemos.
Ah,
e quando se fala de recomeço não quer se dizer em esquecimento. Diz-se em se
permitir tentar novamente. Diz-se em erguer forças, apontar um alvo e seguir,
sem desistir. Aprender com os erros e continuar. Não se pode apagar o passado
para construí-lo novamente; seu passado sempre será o mesmo, você pode mudar o
presente e, consequentemente, o futuro. Há de se entender que o passado não é
de tudo ruim. Pode não ter sido bom, pode ter te feito chorar e desesperançar
seus sonhos, mas, ainda assim, é uma experiência que necessita ser lembrada.
Seus passos errados no passado podem transformar passos melhores no agora.
Ufa!
Agora,
acrescento: ainda bem que não existe o botão ‘delete’. A vida poderia se tornar
um círculo vicioso de erros e arrependimentos, sem aprendizagem alguma diante
deles e, ora, o que é a vida sem que possamos aprender com nossos próprios
erros e experiências?
Já
disse e repito: a gente não precisa esquecer o passado e nem pode. O que
precisamos, de fato, para viver bem, é aprender a conviver com suas passagens,
experiências e lembranças. Esquecer, na verdade, não é possível. Algo vai
restar e se acumular na memória; vai te fazer lembrar mais cedo ou mais tarde.
Aprenda que o que a gente viveu, mesmo ao ficar na folha já virada, ainda nos
dá base para os passos futuros. Nós somos acumuladores de lembranças boas e
ruins, protagonistas de histórias e invenções, não podemos nos dar ao luxo de
simplesmente apagar da memória um passado com ou sem erros. Precisamos das
folhas viradas para emoldurar amadurecimento às próximas.
Via: Superela