Pode
escrever. Um dia, sabe Deus quando, você e eu entraremos numa igrejinha antiga,
repleta de santos e amigos, para ouvir a velha pergunta a que todos respondem “sim”. Há de ser um encontro simples e
bonito como nossas conversas. Uma cerimônia breve e inesquecível, feito o abraço
apertado e discreto de dois amantes que não podem ser vistos juntos. Pode
demorar, pode levar a vida inteira. Um dia, não sei como, não sei quando, não sei
onde, no fim do mundo ou ali... na esquina, eu ainda me caso com você.
Assim,
devagar, em nosso tempo, tocamos nossas vidas cada um em seu lado, de seu
jeito, de sua sorte. Porque o que tinha de acontecer já aconteceu. Porque o
mais difícil já se realizou. A vida já nos fez próximos, o universo fez das
suas, conspirou e conseguiu. Você e eu já nos pensamos à noite, já nos queremos
perto. Você e eu já nos queremos bem e isso é tão bonito! Isso é muito bonito!
Ainda
que o mundo inteiro se oponha e se coloque entre nós, nossos espíritos arredios
já escapuliram e se encontraram por aí. Nossas vidas se tocaram, nossas mãos
congelaram, nossos pés pediram as mesmas meias na solidão de nossa noite.
Juntos,
demos início a um processo sem volta, ativamos uma bomba que não se pode
desarmar, pegamos um caminho do qual não se retorna. Agora só se vai adiante.
Ainda que lá na frente outra bifurcação nos separe, agora só nos resta o
movimento franco e inevitável da vida.
E
a vida capricha nas reviravoltas que dá. Quem diria? A nós, só nos resta
tocá-la em frente, cada um em seu canto do mundo. Por enquanto. Porque eu não
sei como, não sei quando, não sei onde, um dia eu ainda me caso com você. Pode
escrever.
Via: Resiliência Mag