Algumas
histórias ficam sem explicação. Alguns enredos chegam ao fim apresentando mais
perguntas que respostas. Alguns desfechos deixam vazios que nunca poderão ser
preenchidos.
Se
uma história foi importante, se em algum momento houve a intenção de que não
acabasse nunca, se existiam planos e sonhos em comum, se havia amor e
principalmente alegria, o mínimo que esperamos é que nossa falta seja sentida e
sofrida.
Porém,
na prática não funciona assim. Nem sempre sentirão a nossa falta como
gostaríamos que sentissem. Nem sempre seremos o gatilho pra uma noite de
nostalgia regada a álcool e lembranças. Nem sempre seremos saudade. Nem sempre
seremos dor pela vida que não se concretizou.
Nunca
saberemos a real medida do abandono de um coração que já foi nosso e não é
mais. Nunca saberemos se nossa falta foi realmente sentida, lamentada, vivida e
doída. Nunca teremos a exata noção do quanto fomos importantes e do quanto
deixamos de ser. Jamais conheceremos os pensamentos traiçoeiros, as lembranças
fora de hora e os arrependimentos secretos daqueles que sentem nossa falta.
Há
quem diga que homens têm aquele botão ‘liga/desliga’, e por isso estariam menos
propensos a sofrer pelo fim de uma relação importante. Porém, gosto de
acreditar que lidamos de formas diferentes com a dor. Que, felizmente, as
mulheres podem contar com uma rede de solidariedade feminina - a tal da
sororidade - que nos ajuda a processar o luto pelo fim de uma relação
importante através de conversas, desabafos, taças de vinho, abraços, empatia e
algum choro. Já os homens, com algumas exceções, teriam mais dificuldade em
exteriorizar o sofrimento, e talvez por isso disfarcem melhor o quanto estão
quebrados por dentro.
Porém,
como na letra de Chico Buarque, desejamos ser os primeiros a superar o fim de
uma relação importante: “Olhos nos olhos,
quero ver o que você faz ao sentir que sem você eu passo bem demais...” e
nos ressentimos com a facilidade que algumas pessoas têm de se refazer rapidamente
após o rompimento conosco.
Mulheres
não gostam de água pela canela. Elas mergulham fundo na busca de explicações,
argumentos e justificativas que validem o fim de uma relação. Elas ventilam os
sentimentos, arejam a dor, expõem as lembranças... enquanto eles, na maioria
das vezes, trancam as histórias e dores no fundo de uma gaveta e escondem as
chaves de si mesmos.
Mas
ninguém sabe o que vai dentro do coração do outro. Ninguém sabe se a aparente ‘virada
de página’ representa uma genuína superação ou uma fuga. Ninguém sabe se o
tempo não será capaz de um dia trazer de volta aquilo que não foi realmente
superado, e sim sufocado.
Tenho
muita sorte de ter amigas que estiveram comigo nos momentos em que vivi o luto
de uma relação. Elas me ajudaram a me curar, a me reerguer, a reencontrar o
caminho para meu amor próprio. Minha mãe foi uma dessas mulheres. Me pegou no
colo, enxugou minhas lágrimas e me ouviu com amor. Orou comigo, me trouxe uma
flor e me lembrou o quanto sou especial. Hoje sigo tentando ser essa mãe amiga
também. Tentando ensinar ao meu filho que, embora ele seja homem, não precisa
ter vergonha de chorar, de exteriorizar o que sente, de demonstrar afeto e
compaixão.
Está
provado cientificamente que o fato de formarmos uma rede de solidariedade e
amor, em que podemos exteriorizar nossos sentimentos e emoções umas com as
outras, faz de nós, mulheres, mais resistentes a doenças e aumenta nossa
expectativa de vida. Falar liberta, alivia, regenera. Falar traz entendimento,
consolo, recuperação. Falar aproxima, reconforta, cura.
Não
é que homem supera mais rápido. Na verdade, eles externam menos a dor. Isso
pode não ser unanimidade, mas tem razão de ser. Cada um à sua maneira, estamos
todos tentando resolver nossos traumas, frustrações e decepções. Ninguém está
imune a amar, e amando, se sentir vulnerável, frágil, oprimido. A boa notícia é
que passa. Passa e leva embora nossos fantasmas, nossos pontos de interrogação
e, principalmente, nossas mágoas...