Investigações
sentimentais apontam que Desrespeito e Preconceito são irmãos e frequentemente
têm sido vistos andando um, na companhia do outro. Juntos, eles têm uma missão
repugnante: serem maus o tempo todo.
Tenho
ouvido falar que o Respeito, esse sim um bom moço, anda meio sumido
ultimamente. Na certa não tem encontrado freguesia, porque o negócio dos dois
irmãos tem se tornado cada vez mais próspero. Eu concordo que ele realmente tem
aparecido menos do que se gostaria e até acho que ele deveria se fazer mais
presente em mais ocasiões.
É
nas decisões mais complicadas, sobre situações delicadas e nas pessoas mais
frágeis que o Desrespeito e o Preconceito procuram agir; naqueles que
supostamente não se encaixam nos padrões que foram estabelecidos pelo mercado
humano, eles agem incomodando e alegando a não pertença a esses padrões,
causando segregação e violências de variadíssimas formas.
Quero
deixar aqui relatadas as várias vezes em que os vi aparecer e me roubar o
direito de ser quem sou. Registro meus acontecimentos na esperança de que o
Respeito me socorra com mais frequência.
Confesso
que vi o Desrespeito chegar sorrateiro em todas as incontáveis vezes que me
disseram que a cor da minha pele não era adequada e que eu deveria tomar um
pouquinho mais de sol; em todas as piadas feitas pelo sobrenome de pronúncia um
tanto complicada; na julgada incapacidade causada pelo uso da mão esquerda nas
tarefas diárias.
Senti
o Desrespeito agir quando mil palpites pretenderam recriminar minha escolha
para os nomes das crianças que eu esperava; quando a opção de agir de forma
correta usando verdade e honestidade, foi tachada de método das antigas.
Nestas, entre outras inúmeras vezes, o Desrespeito aparecia sem cerimônia e
quando o Preconceito não mostrava a cara, eu podia senti-lo à minha espreita.
Agora
me pergunto se eu também, em uma ocasião ou outra, não expulsei a pontapés o
Respeito, e ele saiu, sentindo-se injustamente rejeitado...
Até
entendo que muitos desses fatos ocorrem porque não nos dispomos a combater a
dupla malvada. Mas lá no fundo penso que o método mais eficaz seria cada um
cuidar da sua própria vida, das suas particularidades e escolhas e se entender
bem com elas. Isso evitaria problemas de todas as naturezas, fossem ele
passivos ou ativos.
Mas
imagino que a vida de todos nós esteja cheia de marcas negativas e mágoas mal
curadas, causadas por esses vilões astutos.
Chegou
o tempo de dizer que não queremos mais carregar estas marcas e que precisamos
ser cuidadosos para não ferir ou maltratar mais ninguém. Deixemos o Desrespeito
e o Preconceito, elementos tão indesejáveis, fora das nossas vidas.
E
enxerguemos as diferenças e opiniões alheias na presença do Respeito. Afinal,
apesar de o mundo estar super moderno, ele é bom e todo mundo gosta dele.
Alessandra
Piassarollo