Em
todo lugar é a mesma coisa. Escuto amigos reclamando da crise. De como perderam
poder de compra e como não estão conseguindo mais ganhar dinheiro. De como
precisam escolher as marcas mais em conta no supermercado quando, antes, escolhiam
pelo gosto pessoal. De como estão escolhendo quais contas vão pagar no mês e,
em casos mais graves, faltando até para comer dentro de casa. Pessoas que
estudaram, que se dedicam à sua carreira há anos. Pessoas que tinham negócios
prósperos, frutos de trabalho honesto. Pessoas que precisaram vender carros,
motos, apartamentos para sobreviver. Que foram morar com parentes para pagar as
contas. Que não podem proporcionar aos filhos o que tiveram na infância. Que
tiram da própria boca para alimentar pessoas que amam.
Isso
num país enorme. Cheio de terras férteis, nascentes, rios, uma riqueza de
natureza.
Um
país onde também vieram parar pessoas de má índole. Impostos que não acabam
mais (o brasileiro trabalha cinco meses do ano somente para pagar os impostos).
De roubos aos cofres públicos, de uma completa falta de vergonha na cara. E
não, não estou falando de um único partido, mas de todos. De 90% dos políticos
que, se não entram no esquema, saem é da política. Hoje fiquei muito triste com
o relato de uma pessoa querida. Ainda tem um emprego, mas se vê coberta por
necessidade, para ela e para os filhos, que não acabam mais. Continua na luta,
dia a dia, mas as coisas não mudam.
O
que me preocupa, na verdade, é que começo a ver um movimento de desânimo geral.
As pessoas estão perdendo a energia, parando aos poucos. Não tem mais ânimo
para tentar coisas novas, acabam começando e parando. Não conseguem fazer
planos para o futuro.
Vão
quebrando assim, aos poucos. Nessa hora é que nos perguntamos: como se manter
em pé vendo tudo isso? Como tentar melhorar as coisas dentro da gente para que
possamos passar por essa turbulência que parece não ter fim? Não é fácil, mas é
possível.
Primeiro,
vamos nos apegar ao que realmente importa. Se você não tem todas as coisas que
queria ter, veja o que você realmente tem. Se não pode comprar o arroz que mais
gosta, mas ainda pode comprar um de pior qualidade, tudo bem. Vamos nos
concentrar na máxima: nada é para sempre. Isso tudo é uma fase ruim, uma baixa,
que vai passar. Isso porque o Universo é cíclico e ele sempre devolve o que ele
tira, isso é certo.
Depois,
vamos fazer coisas que nos alimentem o espírito. Amar, ficar com seus filhos,
abraçar uma árvore, cuidar das plantas. Coisas que não precisam de dinheiro.
Mas que precisam de tempo e de alguns minutos da sua atenção. Tirar a atenção
dos problemas e das contas e apreciar o pôr-do-sol. Tirar uma foto, mesmo com
aquele celular velho que precisaria ser trocado, e compartilhar nas redes
sociais. Vamos dividir o que temos, mesmo que seja pouco. Se não dá para ser
dinheiro ou bens materiais, que seja uma palavra amiga. Vamos reunir as pessoas
e fazer uma festa econômica, por exemplo, só para estarmos juntos. É muito
comum sacrificarmos o lazer nessas horas e isso não pode ser sacrificado porque
é o que nos manterá firmes.
Faça
programas que envolvam mais pessoas e amor, e menos cifras. Uma boa conversa
com uma amiga numa padaria é muitas vezes um ótimo remédio. Faça uma limpa na
sua casa. Veja o que pode ser consertado ou usado de uma maneira nova. Se não
tem grana para roupas novas, que tal chamar uma amiga e inventar novos looks
com o que você já tem? Ou aquela avó que costura para mudar algumas coisas?
Vamos trocar. Na internet, existem muitos grupos e brechós com trocas de
roupas, sapatos, livros e mais uma variedade de coisas. Ter algo novo dá uma
animada na vida, mas não precisa necessariamente envolver dinheiro vivo. Suas
coisas foram compradas por você e valem dinheiro. Vários sites também vendem
coisas usadas, dá para comprar e vender e ainda ser mais sustentável.
Acreditem, não precisamos realmente da metade das coisas que nós temos.
Apegue-se
à sua parte espiritual. E aqui não estou falando só de religião, mas de
entendimento. Se todos estamos no mesmo barco, alguns piores e outros melhores,
por que viemos parar aqui? O que será que precisamos mudar na nossa mentalidade,
na nossa maneira de ser para sairmos de determinadas situações? Será que também
não precisamos vigiar mais o nosso lado ‘esperto’? Será que não estamos caindo
nas armadilhas do ‘jeitinho brasileiro’ e precisando mudar a nós mesmos e as
pessoas ao nosso redor? Orar, rezar, ou ir ao seu centro de espírita é ótimo e
renova o nosso espírito e as nossas esperanças. Precisamos manter o olho no
futuro, mas vigiar o nosso caráter no presente. Ajude pessoas que estão mais
necessitadas do que você. Ir a um local onde as pessoas precisam mais do que a
gente, nos faz dar muito mais valor ao que temos. Visite um asilo e converse,
só converse, com os velhinhos abandonados. Vá a um orfanato e dê carinho a
crianças que não tem nada. Isso fará bem as pessoas, sim, mas fará mais bem a
você mesmo. Entender que cada um está onde precisa estar para o seu aprendizado
e para sua evolução é uma boa maneira de nos mantermos ativos e conscientes da
nossa verdade.
Por
último, mas não menos importante, vamos então nos engajar, de verdade, em lutas
sociais e por mais justiça. Não estou falando de fazer parte de nada
especificamente, mas cobrar por melhorias. Participar de conselhos ou de
reuniões na sua cidade. Exigir a transparência das contas públicas, cobrar os
projetos que foram prometidos e não fazer vista grossa quando virmos as
notícias nos jornais. Vamos pesquisar, especular, falar, gritar, ir para rua e
defender o que acreditamos. E acreditarmos mesmo que isso tudo precisa ser
transformado e que somos, sim, agentes dessa mudança. Sim, nós podemos. Podemos
fazer a diferença. Podemos passar por isso sem nos perdermos de nós e nem da
nossa verdade. Uma hora ou outra isso tudo acaba, com a nossa participação ou
não, e o que vai restar é a verdade e a consciência do nosso espírito. Não se
perca de si por problemas que estão fora, que são externos a nós. Vamos
entender que somos pessoas que podem e estão ajudando a manter tudo unido para
um futuro cada vez melhor.
Via: Resiliência Mag