A gente sobrevive às decepções, mas acreditar mais uma vez, pode ficar na saudade.



Todo mundo já sofreu alguma decepção, em doses maiores ou menores, por amigos ou desconhecidos. Todo mundo um dia chora por ter sido trocado, humilhado, desacreditado ou esquecido. Todo mundo algum dia dói por alguma maldade alheia, porque ninguém é tão bento ou perfeito que não tenha magoado alguém.
A pior decepção é aquela que vem de alguém que amamos ou temos um sentimento profundo, porque descobrimos que a pessoa não vale sequer nossa amizade. Dói quando a mentira vem à tona, quando descobrimos verdades que denigre um alguém especial para nós. É como nos jogar ao fundo do poço, arrancar de nós aquela imagem perfeita que tínhamos, mesmo assim, enxugamos as decepções e seguimos...
Perdoamos a rasteira do outro, as maldades recebidas, os desenganos, mas não vai ser como antes, porque depois que a roupa mancha, a fechadura fica frouxa e o chuveiro queima, não tem jeito mesmo, o melhor é comprar um novo. É muito difícil, quase impossível, acreditar em alguém que coloca à prova nossa bondade, dignidade e lealdade. Quando alguém infringe a lei de ser bom ou honesto, é como um tapa na cara, uma facada pelas costas, um chute na boca do estômago.

Aceitamos deslizes, mas uma decepção absurda de quem é próximo, nos tira do eixo, nos faz descrentes e ainda nos faz perder a confiança. Quando a confiança é posta à prova, o melhor é apostar em outros horizontes e seguir viagem para alguém que nos respeita de corpo, alma e dignidade.
Clarice Lispector simplifica: “não me decepcione porque nem sempre consigo perdoar, não espere me perder para sentir minha falta”. É assim mesmo... perdoamos, porém nem tudo ou todos, porque também temos nossos limites e tem gente que não merece nada além do que desprezo. Não me decepcione, porque não sou anjo suficiente para não descer do salto e te dar uns tapas, esta é a minha definição, porque não fui feita com muita classe.
Já desci do salto quando me decepcionei. Já gritei e chorei quando me atacaram com falta de lealdade. Já dei vexame quando descobri ter sido trocada. Já xinguei palavrões quando aquela amiga era pura ilusão. Já mandei a merda quando percebi que havia mais maldades do que parentesco. Já e já! Não me arrependi, confesso. Sobrevivi a todas as decepções, mas não consegui mais acreditar, porque aquelas pessoas que eu confiava, ficaram na saudade de que eram amigas e verdadeiras.
Todo mundo sobrevive as decepções, assim como quem faz maldades não vai parar. Não acredito em desculpas apenas para convencer, porque quem realmente quer ser perdoado deve mostrar mudança. Acredito em perdões que vem da alma e nos provam com o tempo que houve arrependimento.
É melhor que uma amizade fique na saudade, porque acreditar mais uma vez, só acontece quando o tempo nos mostra, realmente, que essa pessoa mereceu ter sido perdoada.