Para
aqueles que são calados, tímidos, contidos, meio sérios, tem vergonha de muita
coisa, temem a rejeição e não gostam de multidões, queria dizer que eu entendo
como se sentem. Eu sei como é olhar em volta e perceber que ali não é o seu
lugar, mas que se der mais uma volta em busca desse tal ‘lugar’ não irá
encontra-lo, pois há algo dentro de você que não te deixa se sentir pertencente
a quase toda realidade que te rodeia. A gente vive abaixando a cabeça quando
passamos pelas pessoas, calamos nossa voz quando temos uma opinião para dar,
ficamos com o rosto vermelho se riem de nós. E o ruim é pensarmos que há algo
de muito errado com nosso jeito de ser, que devemos mudar a qualquer custo,
sermos outras pessoas, buscarmos o impossível se preciso for, mas que
precisamos nos transformar, pois a nossa personalidade não é atraente, bonita e
nem cheia de vida como uns dizem por aí.
Mas
você não é alguém ruim porque tem dificuldade em se expressar em público, e
também não é frio porque não consegue abraçar e dizer que ama os seus amigos e
familiares. Mas você é uma pessoa que tem emoções dentro do peito, que tem uma
alma repleta de sonhos, criatividade e ideias para melhorar o mundo obscurecido
pela maldade. Você, assim como eu, tem seus traumas de infância quando era
forçado a agir de um jeito atípico, quando as pessoas queriam um movimento seu
que não condizia com seus hábitos, mas se não fizesse algo iria parecer uma
pessoa totalmente fora dos padrões com sérios problemas emocionais e
psicológicos. Mas o que a gente fez depois disso? Seguiu em frente. Mesmo que
nesse ‘seguir’ aja atrás de nós uma mala com dores não curadas que saímos
arrastando por aí como se fossem troféus, quando na verdade são cicatrizes das
guerras que lutamos sem ninguém perceber.
Somos
especialistas em sofrer com um sorriso no rosto. Temos pós-doutorado em chorar
com o travesseiro no rosto para abafar os soluços e no outro dia se alguém
perguntar sobre os olhos inchados vamos dizer que é algum tipo de alergia.
Somos pessoas incríveis, mas nós não acreditamos nisso. Dificilmente vamos
elogiar a nós mesmos apesar de nossos esforços e conquistas, mas vamos dizer
que nem foi tão bom assim, que fulano de tal fez melhor e que ele sim merece. Não
sabemos também receber elogios e nem críticas, tudo parece a mesma coisa e se
embola enquanto nosso rosto pega fogo de tão vermelho. Mas o que a gente faz?
Continua como se tudo estivesse bem. Vai andando pelo meio dos outros torcendo
para que alguém perceba aquele lado que escondemos, aquela luz que insistimos
em tranca-la numa torre alta, e queremos que esse alguém nos veja além daquilo
que já disseram sobre nós, e que esse alguém não tenha medo de se aproximar,
mas que veja nisso uma oportunidade de descobrir aquilo que quase ninguém
conhece.
Mas
se por um acaso, ou por propósito de Deus, alguém desse tipo se aproximar nossa
primeira reação é correr, porque imaginamos que se alguém gostar de nós deve
ser maluco e muito carente, então é melhor manter distância. Porém a pessoa, na
maioria das vezes, é alguém comum, também com seus defeitos, erros e medos como
eu e você temos. Porém a gente se coloca num nível tão abaixo do mar que nos
vemos como escolhas não tão boas, então é melhor correr para se proteger. Mas
se a pessoa insiste em nos conhecer melhor, se ele ou ela amar nosso sorriso
raro e tímido, se tiver algum gosto literário ou cinematográfico como o nosso,
compartilhar a mesma fé, algumas resistências nossas vão caindo. Vemos o outro
não como um perigo iminente, mas como um ser humano normal, que talvez, só
talvez, poderá nos fazer feliz como sempre sonhamos. Porque pessoas como nós
tem um lado pessimista bem desenvolvido e tem dificuldades em imaginar um
amanhã mais bonito, ensolarado e promissor. Que podem até ter fé em Deus, como
eu tenho, porém no fundo ficam com medo do que pode acontecer e acabam deixando
a confiança no Senhor de lado.
Mas
apesar de tudo isso nós não somos o problema, porém temos alguns problemas. Nós
temos dificuldade em nos relacionar quando os seres humanos são,
cientificamente e religiosamente falando, seres sociais criados para o
relacionamento. Cada um de nós descende de duas pessoas e essas duas pessoas
descendem de mais duas, e no meio disso há mais pessoas que chamamos de tios e
primos. Porém há uma diferença entre quem é carismático e quem é mais tímido,
os dois tem personalidades diferentes, porém os dois tem um jeito totalmente
humano. Não é porque uns falam demais, sorriem demais, tem amigos demais, que
eles são melhores do que aqueles que falam de menos, sorriem de menos e tem
amigos de menos. Apenas são pessoas pertencentes a grupos distintos, mas que
ambos têm suas qualidades, ensinamentos e beleza, muita beleza. Porém se nós
próprios fechamos os olhos para quem nós somos e ficamos pensando que somos um
grande problema que ninguém consegue resolver, nunca iremos nos aceitar e
consequentemente nunca conseguiremos nos amar.
Temos
que olhar para quem somos e vermos que também temos nosso lado bom, bonito,
empolgante e cheio de vida, só que ele é expresso de forma diferente, mas não
quer dizer que esse nosso lado não exista. Nós também amamos, porém o nosso
modo de demonstrar esse amor é muito mais por atitudes do que por meras
palavras. Somos pessoas criativas, sensíveis, e que tem empatia pelos outros e
gostamos de ajudar, só que não levamos muito jeito para deixar as pessoas
fazerem parte integral de nossas vidas. Temos medo de baixar as armaduras e
recebermos pancadas, porém é só ter cuidado com quem se aproximar, conhecer bem
para ir se abrindo aos poucos. E não tente ser o que você não é. Não se force a
falar, a gritar, a se jogar em cima dos outros. Não se obrigue a ir a lugares
lotados para se encher de vazio como muitos fazem. Não precisa segurar ninguém
do seu lado porque tem medo de ficar só, pois o amor verdadeiro deixa livre
porque sabe que se for para ser ele ficará para sempre.
E
uma coisa que aprendi com Deus é que apesar de eu não ser tudo que deveria, a
cada novo amanhecer eu sou melhor do que era no dia anterior. Que com o Espírito
Santo eu aprendo a amar, a me alegrar, ter paciência, paz, bondade, ser fiel,
calma e ter domínio próprio sobre aquelas emoções ruins que querem governar
minha vida. Eu sei que minha personalidade será a mesma, que se eu me forçar a
ser outra pessoa irá doer demais, porém eu sei que como todo ser humano eu
preciso de alguns reparos que irei fazer, porém consciente de que a perfeição
nunca será alcançada, mas que pior eu não vou ficar. E que as pessoas que vão
ficar do meu lado serão aquelas que amarão meu jeito e irão entendê-lo, que eu
não precisarei usar máscaras para ser aceita e sim deixarei minha alma ser quem
ela é. E você também pode com esses princípios saber que ficará bem.