Ela é dela, moço!



Disseram a ela que homem nenhum ficaria ao seu lado caso ela não mudasse seu comportamento. Ela sorriu e disse: “sou minha, baby”. E não deixou de ser quem era para caber na vida de ninguém. Ela sempre soube quem queria ao seu lado e como desejava viver. Jamais deixaria que alguém coordenasse seus passos ou lhe dirigisse seus caminhos. Ela sempre teve em mente que a vida é muito maior do que o seu status de relacionamento, do que sua condição civil. Ser metade de alguém nunca fora prioridade. Ela sempre acreditou que era inteira demais para buscar uma banda de laranja.
Disseram a ela que ela deveria se comportar como uma moça de família, pois homens não gostavam de mulheres baladeiras e que curtiam noitadas. A moça sempre teve em mente que ela poderia ser quem quisesse. Mas não admitiria, em hipótese alguma, ser Amélia de ninguém. Amélia era mulher de verdade pro homem que desejava que ela fosse invisível aos olhos dos outros, que estivesse em casa preparando comida e cuidando dos filhos, que abaixasse a cabeça para as suas represálias. Ela não poderia ser Amélia. Nem que ela quisesse.

Disseram que ela deveria ser mais comedida, menos espalhafatosa, que falasse apenas o necessário e deixasse que o homem a conduzisse em todos os momentos. Ela olhou para si, para a sua história, se viu batalhando nos momentos difíceis, sem que alguém lhe estendesse a mão e não pôde ser ingrata com seu passado, com os dias sem vitória, os dias em que teve ao seu lado única e exclusivamente sua companhia. A moça não soube conciliar sua independência com a boa vontade alheia.
Disseram que ela deveria mudar seu jeito para caber na vida de alguém, que suas roupas não condiziam com a vida de quem ela queria, que ser independente demais a prejudicaria e que ela deveria baixar a guarda vez ou outra. A moça olhou para sua vida mais uma vez, para a sua história, e convidou o moço para entrar. Fez café, estendeu rede na varanda e deu a chave da casa. A única exigência que ela fez foi que ele não lhe cortasse as asas, pois ela sempre compreendeu que todas as exigências para caber na vida de alguém nada mais era que uma gaiola.