Procuro
casa na praia para merecido remanso. Não precisa ser grande, não. Quarto, sala,
uma cozinha no jeito, um banheirinho. Perfeito. Carece mais nada. Vou sozinho.
Quer dizer, vou com esta alma cansada. Mas ela não conta, não quebra torneira,
não suja nada. Ninguém a vê. Não ocupa outro espaço senão aqui dentro. Não quer
outra coisa senão descansar, sossegada, pertinho do mar.
Ali
no arredor, se tiver uma quitanda, melhor. Minha alma aprecia cheirinho de
fruta. Sendo ao lado, a gente caminha até lá, cedinho, comprar abacaxi
descascado, laranja, banana, mamão, maçã, lichia. Essas coisas pra comer de
manhã, todo dia.
Vizinhança
se for tranquila, a gente agradece. Nada contra o barulho da juventude, as
festas de madrugada. Mas minh’alma anda esgotada, carecida de quietude. Não por
nada, a gente prefere lugar recatado. Um predinho de aposentado, uma vila
escondida, com síndica velhinha e guarida.
De
frente pro mar é exagero. Decerto seria um encanto, mas a grana não dá para
tanto. Se da janela se avistar o poente, pronto. Já tá bom pra gente.
Perto
da praia, sim. Pra ir a pé de manhã, pensando na vida, sem hora, sem pressa,
sem culpa de nada, sem medo de tudo, e voltar só de tardinha, descalço,
cansado, o corpo pesado, os chinelos nas mãos, e a alma aqui dentro dormindo
levinha, feito criança no banco de trás, benzida de sal e de sol, de céu e de
mar. Em paz.
Em
casa nada há de ser mais urgente que banho e jantar. Nosso macarrão com
sardinha espirrando no pijama até o sono, enfim, nos levar para a cama.
Em
meu sonho, minha alma e eu voltaremos à infância brincar na areia, correr das
ondas, fazer castelo, caçar conchinha. Sentir alegria. E amanhã, logo de
manhãzinha, vai ser outro dia.
Assim
será em breve. Só um tempo na praia tornará esta alma leve. Princesa que vive
só, e sozinha será até o fim, trancada numa torre, dentro de mim.