Quando
eu tinha uns 11 anos, meu pai chegou em casa com a ideia de tirarmos as
rodinhas da bicicleta. Afinal, eu e minha irmã já estávamos grandinhas para
precisar delas. Só que a ideia não me agradou muito. Era tão bom andar daquele
jeito, com aquela segurança. No entanto, a vontade de meu pai para que tentasse
não me fez hesitar.
Tentei
uma vez, caí. Tentei a segunda, caí de novo. Por fim, na terceira tentativa
consegui andar alguns metros sem as rodinhas, até que me desequilibrei
novamente. Felizmente, com o passar dos dias, os tombos foram diminuindo, a
apreensão da minha mãe deu lugar à tranquilidade e a minha insegurança deixou
de existir.
Passados
alguns anos, o medo não depende mais das rodas. É preciso encarar a primeira
vez de várias situações, muitas vezes sem um apoio e independente do
encorajamento dos meus pais. Na última semana, comecei um trabalho novo. Diante
de tantas mudanças, é impossível não temer. Muda a rotina, o caminho para o
trabalho, a mesa, o ambiente e os colegas.
Definitivamente,
você abandona a zona de conforto para lidar com novos desafios. E olha, não é
nada fácil. Seja um novo emprego, um novo romance, um novo problema. O novo nos
assusta e, ao mesmo tempo, nos faz evoluir. Dói sair da zona de conforto. Mais
do que isso, dá um desespero ter que enfrentar as quedas, porque é fato que, em
algum momento, elas virão.
E
quem dera elas sejam tão simples como os tombos da bicicleta sem rodinhas. Elas
não nos criam hematomas, mas nos fazem sangrar na alma. E por medo delas,
recuamos. Desistimos de encarar, sofremos por antecipação. Mas aí, nessa hora,
existe um pai para te encorajar, amigos maravilhosos para te apoiar e uma força
interna que você nem ao menos conhecia.
É
preciso coragem. Aquela mesma que pude sentir ao encarar a bicicleta sem
rodinhas. A vida não possui aparatos de apoio. Por isso, dê um jeito de criar o
seu.
Via: Sem Travas na Língua