O
tempo passou, mas ainda me lembro das delícias de ser a sua criança.
Lembro-me
de quando te via sentado no chão e sua perna em descanso parecia um refúgio
perfeito. Deitava minha cabeça e imaginava que aquele seria meu abrigo eterno e
seguro. O chão era puro deleite, porque era o afeto quem aquecia e amaciava meu
coração.
Lembro
bem das muitas voltas que dei em cima dos seus ombros. Quase podia alcançar as
estrelas, daquela altura! Acho que tínhamos superpoderes naquela época.
Percebi
hoje que o tempo encolheu nossa afinidade. Há anos não me deito em seu colo
paterno. Entendo agora que seus ombros carregam pesos maiores que o meu de quando
criança, as pesadas obrigações que antes eu não percebia.
Mas
nem tudo se foi. Ficaram vivas as lembranças, justificativa da minha contínua
batalha para ser feliz. Ficaram seus exemplos, de trabalho, zelo e honestidade.
Esses nunca vão passar.
A
sua constante vontade de dividir o pão, o banco, o café e ver a vida passar sem
pressa no fim de tarde ou da semana, aproveitando um pouco do sossego pra rir
de coisas pouco importantes, é uma lição que aprendi com prazer.
As
experiências vividas ficaram inscritas no seu rosto, a bondade impressa no
peito. Os seus nãos escreveram minha personalidade.
Pai,
minha vida de adulto talvez tenha me feito ficar longe do seu colo, mas não
restam dúvidas de que seus ensinamentos me aproximaram da pessoa que eu sou
hoje. Sou um espelho seu.
Noto
agora, e com certa graça, que seu esforço para me repreender de vez em quando é
uma sutil tentativa de manter nosso elo. Eu aceito. Cresci, mas ainda preciso
dos conselhos de um pai. Preciso contar com sua opinião, com seus ouvidos para
me escutar, e com sua presença para me completar.
O
passar dos anos me fez forte e experiente, e serviram para me provar que a
maior parte do ser humano que eu sou hoje devo a você, Pai.
Agradeço
por isso. E por todas as delícias que vivi desde que me tornei a sua criança.
Alessandra
Piassarollo