Todos
precisamos de uma presença que, ainda que silenciosa, nos distraia e alivie um
pouco do sufoco que é ser alguém.
Tem
um trecho de uma música da Canto Dos Malditos Na Terra Do Nunca que diz: “Eu quero descansar no teu peito o cansaço
dessa vida e o peso de ter que ser alguém”. E não é isso que todos
procuramos em um relacionamento? Além, é claro, de buscarmos alguém que seja
nosso parceiro para enfrentar as durezas do dia a dia, que seja cúmplice e
felicidade dobrada nos momentos de alegria, não estamos, na maioria das vezes,
sedentos por uma fonte de acalento; por um peito que seja abrigo para o
extravaso das dores que já não couberem no nosso?
Não
é que a gente vá criar uma espécie de dependência e fazer do outro nossa única
fonte de felicidade e calmaria: é preciso que saibamos que estas vêm, antes de
tudo, de nós mesmos. Aqueles que caminham ao nosso lado assistem, auxiliam,
bagunçam, potencializam, mas ninguém além de nós mesmos deveria ser o
protagonista da nossa própria felicidade.
Porém,
todos precisamos, em algum momento, de um lugar pra descansar. Todos precisamos
de alguém que nos ajude a organizar mentalmente os pedacinhos dos nossos sonhos
quando eles forem, mais uma vez, triturados pelo mundo. Todos precisamos de
alguém que assuma o controle enquanto estivermos ocupados descobrindo como
recuperar o nosso. Todos precisamos de uma presença que, ainda que silenciosa,
nos distraia e alivie um pouco do sufoco que é ser alguém.
Somos
todos cansados, macerados, sobrecarregados e precisamos, vez ou outra,
abandonar a postura – e a certa frieza – que adotamos para sobreviver e fazer
alguém cúmplice das nossas fraquezas. A gente para de se esforçar e deixa todo
o cansaço da mesmice, a revolta com as injustiças, as saudades colecionadas e
sufocadas, o medo do fracasso e o peso das responsabilidades vir à tona para
depois seguir em frente, mais leves ou não, mas com a sanidade preservada pela
vasão daquilo que nos afoga aos poucos.
Em
um mundo que constantemente nos exaure das mais diversas formas, felizes
daqueles capazes de manter cumplicidade e devoção suficientes para se fazerem
fonte de abrigo e serenidade um do outro; felizes daqueles que encontraram seu
descanso.
Via: Caminhos