E
mais uma vez, eu acreditei que seria para sempre...
Não
foi o nosso tempo, não era o nosso caminho. Nos perdemos em algum momento,
talvez tenhamos tropeçado em algumas pedras e, posteriormente, caímos no
abismo. Tentamos nos equilibrar, entrelaçamos forte as mãos, não queríamos nos
soltar, mas acabou. Seguíamos pela mesma estrada, gostávamos de admirar o
horizonte, o céu transparecia uma confiança de que o paraíso vai além do que os
olhos podiam enxergar. E, bem, eu cheguei a acreditar que esse seria o nosso
limite. Mesmo sem termos conhecido uma vírgula durante o nosso trajeto, o
destino foi cruel e nos apresentou de cara o ponto final.
A
nossa história nunca foi um exemplo de casal perfeito. Assim como em qualquer
caso de amor, tínhamos as nossas diferenças e desavenças. Brigávamos, nos
desentendíamos, sentíamos ciúmes e ficávamos de cara feia quando o outro fazia
algo que não nos agradava. Na frente de outros, apenas sorríamos. Gostávamos de
preservar a imagem do nosso relacionamento, exposições gratuitas nunca foram
saudáveis para uma vida a dois. Em quatro paredes, tínhamos uma fúria
descontrolada de desejo e tesão, mas em ambientes externos, sabíamos nos
comportar. Aliás, eu me esforçava bastante.
Com
você, o encontro era sinônimo de êxtase. Eu perdia o juízo, a vergonha e todas
as peças de roupas. Eu sentia um orgulho imenso por estar ao seu lado. Era um
prazer te apresentar para todos os meus amigos e familiares, assim como poder
beijar a sua boca na hora que eu bem queria. Que na realidade, era o tempo
todo. Uma química gostosa, um frio na barriga misturado com um tesão
arrebatador. Eu confiava em você, acreditava nas suas palavras e em todos os
planos que fizemos desde que nos conhecemos. Eu te entreguei o melhor de mim e
você me deixou completamente despida de receios, medos ou traumas. Eu esqueci
do meu mundo e mergulhei de cabeça no seu. Foi como pisar com o pé direito,
encontrar um trevo de quatro folhas, olhar no relógio e me deparar com números
iguais. Você chegou como um bilhete premiado de loteria, uma alegria
contagiante e inovadora, até o momento de validá-lo e eu descobrir que ele era
falso.
O
meu mundo caiu, eu me joguei no chão e as lágrimas escorreram
incontrolavelmente. Era como ver os meus sonhos escorrerem pelo bueiro,
literalmente, e não poder fazer nada. Lixo, assim que eu me senti e assim que
eu te descobri. Descartável, fedido e imundo. Eu tentei te reciclar, mas a
nossa relação nunca foi uma via de mão dupla. Sabemos que um lado sempre ama
mais, mas empurrar com a barriga é coisa de gente covarde. E, não, eu não sou
fraca como você me julga. Eu tentei, de coração aberto, te fazer feliz. Me preocupei
com os detalhes, não medi esforços e fiz do possível ao impossível.
Talvez,
você não deve fazer ideia do quanto é difícil nos doarmos por alguém que não
sente o mesmo. Ou, de repente, por alguém que perdeu o interesse, que errou
inúmeras vezes. Eu fiz a minha parte. Te escutei, tentei ser compreensiva, te
desculpei, passei por cima de todo o meu orgulho e vaidade. E o que você fez
com todos os meus sentimentos? Pisou em cima. Igual você faz quando vai entrar
na sua casa: você esfrega os pés no tapete, com intenção de deixar nele todas
as impurezas e sujeiras. Comigo você fez pior. Você não teve o cuidado de pedir
licença ao entrar, tirou os sapatos para me fazer acreditar que em você
habitava algum tipo de honestidade. Você me parecia uma pessoa de caráter. Eu
deixei um desconhecido fazer morada na minha casa, no meu interior. Eu não te
expulsei, muito pelo contrário, eu te dei toda hospedagem. Comida e roupa
lavada. E você mudou-se para a minha vida, permanecemos no mesmo teto,
dividimos todas as conquistas e derrotas. Assim como as refeições, era você
quem sentava diariamente na minha frente. Me olhava nos olhos, me comprava com
presentes baratos e palavras poéticas. Você sempre falou demais e fez de menos.
Agora chegou a minha vez...
Você
me perdeu. Perdeu alguém que muito te amou, pouco falou e fez sem esperar nada
em troca. Eu cansei das suas mentiras, omissões, desculpas esfarrapadas. A
minha paciência se esgotou, a minha enxaqueca piorou, a minha gastrite atacou.
Você só me faz mal, repare a que ponto chegamos. Você destruiu a nossa vida, os
nossos objetivos, toda admiração ou respeito que eu tinha por você. Agora eu
sinto vergonha, não por ter me dedicado tanto por alguém que nunca mereceu, mas
principalmente, por olhar para você e enxergar o que você realmente é. Não o
que você me apresentou, não o que você tanto me falou.
Você
me apresentou dois lados, mas na realidade, eu aprendi que ficar sozinha é
melhor do que estar com alguém que não sabe o que quer. Seria mais fácil
assumir e não fugir, como você sempre fez. Mas não, você sempre opta pelo
prático, mais fácil. Sendo assim, estou fazendo o mesmo que você. E, caso se
arrependa e queira voltar, saiba que eu tranquei as portas e troquei as
fechaduras. E, se depender de mim, ficará como você sempre quis...
Batendo
de porta em porta, até o dia que alguém cometer o mesmo erro que eu. Te aceitar
de primeira por cair na sua ótima lábia e, na sequência, te expulsar por
incompetência de amar.
Afinal,
quem muito quebrou a cara, finalmente aprendeu o que merece.
E,
convenhamos, você está longe de ser a última bolacha do pacote.
Via: Resiliência Mag