Talvez
nada esteja mais na moda hoje, do que a tal expressão “vários contatinhos”. Ter os tais vários contatinhos, implica em
ter vários esquemas, mas não namorar ninguém. Ter uma pessoa para cada dia da
semana, se possível, para matar a carência, a vontade de beijar na boca, a
vontade de ir pra cama e afins... Mas e a paz de domingo à tarde, a gente vai
dividir com quem? Porque as tardes de domingo são especiais, não se pode
dividi-la com qualquer pessoa. É exatamente neste momento, que a vantagem de
possuir várias pessoas, se esvai, porque eu converso com Pedro, Victor, Alex,
Leo, Lucas, Daniel e Ricardo, e cada um deles, por sua vez, tem o seu número de
moças com quem conversam. Eu posso ir ao bar com Leo hoje, comer comida
japonesa com Victor, amanhã, no almoço, e a noite, partir para a selvageria com
Ricardo, que almoçou com Milena, e no dia anterior foi ao cinema com Letícia,
porque ele também tem os seus vários contatinhos. E eu nem vou levar a sério,
porque vai saber quem eu vou conhecer na sexta-feira, que vai ter lugar para
começar, mas eu nem sei se vou amanhecer na mesma cidade e com quem, no sábado.
E no final das contas, ninguém é de ninguém, mas todo mundo tá aí, se pegando.
Todo mundo canta em coro “você partiu meu
coração, mas meu amor, não tem problema, não, não; que agora vai sobrar então,
um pedacinho pra cada esquema. Só um pedacinho!” Mas espera aí, é isso que
eu quero pra mim?
Pelo
menos uma vez por semana, eu ouço que preciso ter vários contatinhos, porque
afinal de contas, todo mundo tem! Mas veja bem, eu parei para analisar, e
descobri uma coisa: eu não preciso ter vários esquemas ou “vários contatinhos” para me sentir feliz, satisfeita, bonita ou
uma mulher completa. Pra quê manter o coração partido, se eu posso ser inteira
e plena? Pra quê dar um pedacinho do meu coração pra cada boca que me chamar a
atenção? Como sempre bem disse minha mãe: eu não sou todo mundo. Eu não preciso
enrolar o Alex até sexta, porque hoje eu vou ver o Pedro, amanhã é dia do Dani,
quarta é dia do Lucas, e quinta eu vou precisar me virar pra não trocar os
nomes do Victor e do Ricardo. Eu não quero nenhum deles, e muito menos o Alex,
ou o Leo, que nem lembrava que tinha combinado comigo. Eu não quero sair com a
obrigação de beijar pelo menos uma boca no sábado. Eu não quero ser carente a
tal ponto, de ter a necessidade de supri-la constantemente. Eu não quero todas
estas mãos me tocando, todas estas línguas me envolvendo, e todos estes corpos
se ligando ao meu. Eu não quero me perder entre os nomes que aparecem na tela
do meu celular. Eu não quero ter receio de trocar o nome de ninguém. Eu não
quero ser chamada de ‘rainha deles’, enquanto pego todos os que são chamados de
‘rei delas’. Eu não quero ser igual. E eu não preciso do vazio do domingo, do
vazio do peito, ou do espaço vazio ao meu lado, enquanto eu construo sozinha o
meu castelo, as minhas vias de acesso e a minha vida toda.
Sinceramente?
Eu desejo que você, que sempre vem me dizer que eu preciso de vários esquemas,
vá cuidar da sua vida. Eu aprendi a respeitar o meu corpo, os meus limites, e,
principalmente, os meus valores. Eu nunca fui para vários homens pensarem
possuir. Eu sou o tipo que é mulher de um homem só, e não aceita ser tratada
como segunda opção de ninguém. Eu sou o tipo de mulher que um homem precisa
batalhar para ter. E não pense que já não há homens que batalham para possuir
apenas uma, pois muitas foram as batalhas para possuir este coração, que está
escondido nas conchas das mãos de Deus. A verdade, é que apenas o amor poderá
fazer com que Deus abra as conchas de suas mãos, e deixe meu coração à mostra,
e nenhuma das batalhas travadas, foram com as armas corretas. Esta é a minha
realidade: eu acredito no amor. Piamente. E eu prefiro caminhar efetivamente
só, do que aparentemente acompanhada, e terminar o meu domingo em plena solidão
vazia. Eu prefiro a leveza da espera silenciosa por um amor certo, do que a
gritaria escandalosa e pesarosa, de pertencer à vários corpos, e ainda assim,
não pertencer à nenhum.
Só
lá, na paz do amor certo, é que eu vou poder despir a minha alma... Pois veja
bem, não se despe a alma para qualquer um. Alma é profundidade plena, que não
pode ser confundida com aquela última decepção, apenas. É na paz do amor certo,
que a gente junta os nossos sonhos, com os sonhos do outro, e dá as mãos para
aumentar a força da empreitada para alcançá-los. É na paz do amor certo, que a
gente constrói a vida junto, mesmo que já tenha construído tanta coisa só. É na
paz do amor certo, que dois inteiros transbordam – porque, entenda, essa coisa
de ‘metade’ é história pra boi dormir, porque ninguém merece ter que ficar
tentando completar as lacunas emocionais do outro.
E
é aí que eu te pergunto: ter “vários
contatinhos” pra quê? Pra não me sentir sozinha? Pra me sentir desejada?
Pra elevar o meu ego, e ter a comprovação de que eu sou bonita, gostosa e
desejável?
Deixa
eu te contar, meu bem... tudo isso é vã vaidade. Porque, no final das contas, a
gente tem que saber e conseguir se encarar no espelho. No final das contas, os “vários contatinhos”, são uma equação
desigualmente errônea, que resulta na solidão que a gente quer fugir. Essa
mania de querer se saciar em tanta gente e provar tantos sabores de tantas
bocas, só mostra o quão NADA resolvido a gente é. A gente tá querendo saciar o
quê, afinal? Que depravação é essa, tão infinitamente profunda quanto a alma?
Se
ainda assim você escolher os seus vários contatinhos, eu respeito você. Mas não
venha me chamar de boba, de trouxa, de atrasada ou de arcaica. Eu ainda
acredito no amor, e eu ainda espero por ele, sabendo que ele não virá em cavalo
branco algum, mas virá a sua maneira. De qualquer forma, a minha alma solar
continua lhe fazendo sinal nos dias mais nublados e nas noites mais escuras.
Eu
respeito a sua mania de querer tudo ao mesmo tempo, e não aproveitar plenamente
este tudo. Agora, respeite a minha decisão de sobrepor a qualidade, e deixar a
quantidade de lado.
Afinal,
vários contatinhos pra quê, se eu nasci para um amor certo?
Via: Jornalismo de Boteco