Quando o tempo não apaga.



Hoje eu acordei do sono como se tivesse deixado um pedaço de vida no sonho, e mesmo sem motivo aparente, a angústia fez do coração carga pesada e atrasou a contagem das horas que poderiam ter sido bem leves, não fosse a minha insistência em sentir sempre mais do que eu posso sentir. É que hoje acordei com fardos de mágoas antigas amarradas em nós. E nós, não existimos mais. E por tudo o que morreu, eu queria ter chance de dizer aquele adeus que ficou engasgado no fio invisível que nos toca sempre que a vida insiste em fazer lembrar. Acabou, mas faltou acertar os emaranhados do fim.

Eu queria falar do tempo que nunca mais se encaixou em relógio algum depois que você se foi, que apesar dos desalinhos não sucumbi à dor, apenas deixei que fagulhas do meu amor iluminassem o caminho da estrada que o levou. Eu queria falar da saudade, mas todos os silêncios foram povoados por histórias de vida alheias à minha, então eu quis fingir que esqueci, não fosse por este instante. Agora.
Eu queria dizer que hoje acordei com olhos de mar, que senti o cheiro do sal dos teus olhos, que o vento clareou meus pensamentos e trouxe você aqui... e mesmo que minhas retinas só vejam um descampado imenso, eu entendi que sou maresia, definitivamente.
Desta forma, só resta chorar por todos os sorrisos que deixei escapar nas águas turbulentas do tempo que de tanto correr, quase me fez esquecer. Quase.
Mas não importa o que aconteça, eu preciso falar que nada do que eu diga ou faça, vai mudar o que ficou.
E o que ficou para sempre, é o que não volta, nunca mais.