Um
belo dia estamos a caminhar ao lado do nosso cachorro e ele, inexplicavelmente,
nos crava os dentes. A dor física é imensa, mas a dor emocional é ainda maior.
Que outro cachorro nos mordesse, vá lá, mas o nosso próprio cachorro?!
Metáforas
à parte, dói demais ser machucado por quem acreditávamos ser de confiança. Dói
demais ouvir ofensas de alguém a quem confiamos segredos e dedicamos tempo,
carinho e cuidado.
Dói
demais ouvir tudo o que contamos em completa confiança ser usado contra nós,
ser atirado em nossa cara sem dó nem piedade. Dói ver planos roubados. Dói
notar que nos enganamos redondamente em relação a uma pessoa.
A
dor de uma mordida assim é gritante. Junto dela vem um monte de sensações
tristes e, diferente de como nos portamos em relação àqueles que mal
conhecemos, quando a mordida vem de alguém próximo, a gente se culpa, se deixa
abater e fica meio passado mesmo.
Ah,
mas se pararmos para pensar a pessoa que nos pegou de surpresa já tinha dado
indícios de que poderia morder doído. Ela já tinha feito um comentário maldoso.
Já tinha um histórico o qual resolvemos ignorar. Ela já tinha mentido antes. Ah
sim, a gente quase sempre na ânsia de encaixar alguém em um lugar especial
acaba enfiando os pés pelas mãos mesmo.
Acontece
para quem está vivo. Felizmente a gente se regenera. A gente chora, grita, se
descabela, mas a dor passa e como passa.
Um
dia a gente olha a marca da mordida, já quase indelével, e percebe que a gente
é muito maior que ela. A gente entende que aquela marquinha ali nos ensinou
muito sobre a vida, sobre as pessoas e sobre nós mesmos. Que ela abriu os
nossos olhos para a importância dos detalhes. Para a atenção às entrelinhas.
A
gente aprende, então, a distinguir cão que morde de cão que não morde e
continua amando, continua acreditando, continua seguindo em frente. Sim, essa é
a nossa natureza. A gente nasceu para cativar e ser cativado, contudo as nossas
experiências devem ser levadas em conta e os sinais sutis que nos dizem quem
realmente as pessoas são, nunca devem ser ignorados.
Via: Conti Outra