Preparo o café ou a vida? O triste fim do tanto faz...



Quanto tempo você fica? Sobre preparar-se para algo que nunca chega.
Tem gente que você pensa que terá por perto até o final dos tempos. São indivíduos sem os quais quase não se consegue mais imaginar qualquer corriqueiro fazer da vida. Sem eles os lugares ficam vazios; músicas perdem significado; não há mais razão em realizar certas atividades ou perpetuar velhos hábitos.
Frases, piadas, olhares debochados, tudo perde seu sentido. Que inferno! As vezes até a culinária perde o sentido! Não era você a pessoa que não comia carne; ou você ia naquele lugar só por causa da boa cerveja, mesmo que sempre bebesse vinho e água.
Você abre exceções pela boa companhia e acaba se modificando aos poucos para não deixá-la escapar. O problema é que, muito frequentemente, elas escapam. Enquanto você deixava de tomar seu café com açúcar refinado, elas, silenciosamente, planejavam as suas rotas de fuga.

Na bagagem elas levam todas aquelas suas coisas que só têm significado quando junto delas. Aquelas frases sem sentido que, de alguma forma, se faziam entender; o filme ruim que era pretexto para duas horas de abraço; os cafés da manhã às pressas (porque alguém sempre tem pressa); os “vamos fazer alguma coisa? Vem para cá!” seguidos de 5 horas de absolutamente nada feito...
Elas levam aquela camiseta que usavam para dormir; alguns livros, fotos, um resto de perfume. Aquela mensagem de biscoito da sorte que você guardou porque achou engraçada na hora em que a leu.
Elas nunca planejaram ficar e, no fundo, você sempre soube.
Aos poucos você aprendeu a ser maleável. A gostar de Martini tanto quanto de Caipirinha; doce ou salgado; tanto do livro quanto do filme; de cinema brasileiro e blockbusters sobre super-heróis; de hortelã e de alecrim. Você aceita que todo mundo passa por isso toda hora e que outras pessoas insubstituíveis vão entrar na sua vida por uma nova eternidade até elas ou você irem embora também.
Você entende que, apesar de todos os esforços em adaptar-se, no final das contas não faz a mínima diferença. Ficarão nos armários aquelas coisas que você não come, o shampoo super inovador que você nunca deu muita bola, a posição dos móveis, os tapetes que você detesta. As dedicatórias nos livros das estantes. Os livros. As estantes.
Quanto tempo você fica?
Você chega ao triste nível do tanto faz; seja o café ou a vida, você precisa preparar alguma coisa. E o pior é que o café esfria... e a vida também.

Via: Obvious