Posso
ir? Posso? Sim, eu já contei até 30. Juro que não pulei nenhum número. Não vale
dois no mesmo lugar. Também não vale repetir o esconderijo, nem me dar um susto
quando eu te achar...
Como
no esconde-esconde a vida segue em uma sucessão de achados, perdidos, surpresas
e regras, todos cronometrados pelo tempo que nos dá o sinal de largada não mais
no número 30, mas em cada amanhecer.
Crescer
seja talvez nosso maior susto. É quando percebemos que naquele canto do
armário, escuro e todo empoeirado, que você abria com a certeza de encontrar o
valentão da turma, hoje mora um monstro que se alimenta das suas frustrações e
medos. Passe reto por ali quantas vezes for necessário e lembre-se de não abrir
aquela porta. É nesse canto onde só entra quem tem coragem, que tanto nos falta
quando decidimos encarar nosso lado mais escuro e empoeirado.
E
atrás daquela porta? Quem iria esconder-se no óbvio? É tão óbvio que também
deixamos de enxergar. Afinal, sem dificuldade a vida não tem a menor graça.
Passamos muito mais da metade do nosso tempo atrás de tudo o que se esconde e
não notamos aquilo que escancara na nossa frente.
Até
que finalmente encontramos o esconderijo perfeito. Ele é seguro, criativo e
parece ter tudo o que precisamos para seguir, sem nunca sair dali. Escolhemos a
dedo aqueles que podem entrar, com a condição de que a qualquer deslize que nos
desagrade podem voltar para atrás daquela porta.
Os
minutos passam e tudo o que ouvimos de longe são as risadas daqueles que
brincam com a vida sem medo do óbvio, da poeira ou da verdade, escolhem lugares
bem mais fáceis de se esconder e de se encontrar. É quando você prefere se
entregar, perder o jogo e começar de novo.
Via: Revista Letra