Se
um dia, lá pelas tantas, num momento banal e insuspeitado, tu notares lá no
fundo que alguém te quer ver pelas costas, não te avexes. Aceita e dá a esse
alguém o que é de sua vontade: segue em frente. Toma distância. Se não é para
teu bem, que fique lá atrás.
É
que o caminho tem tanta gente boa à espera de olhar em teus olhos, ouvir tuas
coisas, contar-te as dela, tanta alma carecida de tua ajuda, tanta mão
estendida para quando tu caíres, tanto alguém com quem vale a pena estar, que
perder um só instante em companhia equivocada é jogar a vida fora.
Quem
aceita deitar em mau lençol acorda de mau jeito. Priva de sua presença aqueles
que a merecem, fecha a porta a quem deve entrar. Interrompe o fluxo. Tranca-se,
abrevia-se e se encerra com quem há muito já devia ter sumido.
Eu,
não. Eu escolhi andar ao lado de quem quer me ver de frente. Preferi caminhar
na companhia de quem me quer livre para ser quem eu sou e preza sua liberdade
de ser quem é. O resto não me interessa. Fica lá atrás. Se não quero bem, quero
longe.
Tu
sabes. Aqui e ali há sempre um adulto que se recusa a crescer e permanece
imaturo feito um bebê birrento, oferecendo correntes a quem se aproxima. E ai
de quem confundi-las com braços abertos. Viciado em sua própria ira egoísta e
incapaz de resolvê-la sozinho, faz de pessoas objetos e as amarra para odiá-las
de perto, paralisá-las, aprisioná-las de costas, puxando-as para trás em seu
jeito sujo de não deixá-las seguir em frente. Mantendo-as no atraso, cortando suas
asas, roubando-lhes a vida.
Foge.
Foge que sempre é tempo. Luta contra esse mal, estoura suas amarras, grita,
esperneia, pede ajuda. A vida é movimento e viver vale a pena. Caminha ao lado
de quem te quer bem ou caminha só, para frente, sempre.
Via: Revista Letra