Ame.
Este é o segredo.
Aposto
que você já se perguntou porque somos tão felizes nas redes sociais, mas ao
mesmo tempo não conseguimos nos alegrar na vida real. Eu já me cansei de ver
pessoas que são completamente bem resolvidas nas suas capas de Facebook, mas
que não conseguem passar um dia sem arrumar uma confusão com alguém por uma
bobeira qualquer.
Talvez
nunca tenhamos nos relacionado tanto com outras pessoas como nestes dias.
Conhecemos mais gente, vamos a mais happy
hours, viajamos com mais facilidade e mais frequentemente, fazemos tantas
coisas ao mesmo tempo que até nós mesmos ficamos assustados e sempre andamos
escancarando esta felicidade plástica pelos corredores das redes sociais.
A
verdade é que sempre fomos quem fomos, mas, recentemente, compartilhamos mais a
vida íntima. Cada um tem uma espécie de reality show pessoal. Com mais gente
olhando nossos passos, fomos obrigados a fazer cara de lucidez, tirar uma foto
em nossos celulares-câmeras e publicar em tempo real para toda nossa rede de
contatos. O mais interessante é que ao mesmo tempo que transformamos nossos
logins em uma vitrine de caça-likes, caímos também em um universo indiferente e
ausente de pessoas confiáveis. Democratizamos o ego. Nunca foi tão fácil
encontrar alguém e tão difícil achar pessoas que podemos contar a toda hora.
Isto,
claro, também respingou nos relacionamentos amorosos que temos vivido.
Inauguramos um novo modelo de amor, mais descartável, mais veloz, mais intenso,
mais insatisfatório, mas consumível, mais frio e mais aproveitador. É bem neste
ponto que tornamos a coisa um saco! É gente pra todo lado reclamando de como o
outro o tratou mal, de como idealizou e não foi correspondido, são uma grande
quantidade de indiretas endereçadas aos amores passados, um inexplicável ódio
gratuito e sem objetivo, um desamor para lá, outro para cá, gente tirando
conclusões sobre tudo e todos, comentários desinformados e repugnantes. Até o
português mal falado do outro é motivo para irritação.
As
redes sociais se tornaram um espelho de nós. Ame mais.
Das
lojas gourmet até a o outlet retrô,
dos produtos da China aos handmades
customizados. Tudo é a imagem e semelhança do que nos tornaram. Os cortes de
cabelos são reproduzidos em série, todo mundo está em busca de um objetivo
comum, mas abstrato. Ao mesmo tempo, todo mundo agora é preocupado com a causa
dos cães, com a situação das árvores da Mata Atlântica, em estar em boa forma,
comprometido com uma alimentação mais regulada, com frequentar uma academia (e,
às vezes até fazendo dela o seu diário pessoal no Instagram). Gente que mostra
o carro que comprou, o emprego que conquistou, o camarote que conseguiu porque
é bem relacionado, o final de semana no iate/carro/casa/lounge do amigo rico.
Como
jornalista, sou um duro defensor deste novo modelo de interação social e da
comunicação integrada, globalizada e rápida, mas tenho notado que a gente não
está sabendo lidar com isso em nossas relações. O que era para nos ajudar,
acaba sendo o nosso peso. Estamos nos falando mais, mas não estamos nos
comunicando mais. Disparamos mais palavras, mas temos cada dia menos
misericórdia, menos pudor, falta de paciência, de empatia...
Aliás,
muito provavelmente, boa parte das conversas que você e seu parceiro terão vão
acontecer por texto. Isso não é estranho para vocês? Só eu acho incomum a forma
que escolhemos para nos comunicar com quem amamos ser a mais impessoal,
indireta e pobre que existe? A triste constatação é que temos mais intimidades
com o emoticons do que com os
sentimentos reais, mais intimidade com os comandos do teclado do que com as
palavras.
Precisamos
urgentemente repensar o volume de presença que temos tido na vida das pessoas
que são importantes para nós. Use o Facebook para adicionar o velho amigo da
primeira série, use o Instagram para rever pessoas distantes, monte um grupo no
Whatsapp com os amigos mais chegados, use o Pinterest para se inspirar no
trabalho, mas não se esqueça de que postar nunca será igual estar. Não se
esqueça: a gente não vive para postar e a gente posta o que vive! Viver, depois
postar. E não o inverso. Ame, ame, ame, ame, até que tudo seja mais real e
menos virtual.
Via: Resiliência Mag