Quando
crianças, somos tomados pela alegria das incessantes descobertas. Nesse tempo,
o deslumbramento nos instiga a sondar e a conhecer, a tocar o não sabido, a
explorar o incerto. Na medida em que vamos crescendo, tomamos um caminho
contrário. Cercamo-nos de certezas diversas na ilusão de que essa redoma nos
deixará seguros. Então passamos a desejar que o conhecido e amado se perpetue
no tempo e no espaço, e nos fechamos para o novo.
Passamos,
assim, a escolher caminhos com a intenção de perenidade, firmamos compromissos
com prazos a perder de vista, desenhamos o nosso destino, celebramos contratos,
juramos amores selados de eternidade. Contudo, todo para sempre é provisório.
Os planos, as metas, as juras eternas, eles são o cenário perfeito para que a
vida se mostre maior do que toda e qualquer previsão.
É
que o verdadeiro viver só acontece no improviso. Ele acontece quando um “quase” nos resvala a alma. Quando um “se” nos exaspera. Quando você olha um
desconhecido e percebe que ele o observa e que os olhos dele brilham. Quando
você finalmente constata que a profissão dos seus sonhos não era tão a
profissão dos seus sonhos assim e que você pode criar alternativas. Ele
acontece quando tudo transborda ou quando tudo falta, e você sente que algo dentro
de si se agiganta e que você pode ser maior do que é.
A
vida não tem relógio de ponto. Não se apresenta de hora marcada. Ela não vem
com manuais. Não tem garantias. Mas é uma aventura a ser levada a sério, pois
tudo só é enquanto não se esvair. E tudo se esvai de nós, embora em nós ainda
possa eternizar-se.
O
bonito é regressar às infâncias e ver, com a maturidade dos nossos olhos já
vividos, que existe beleza nesse caos. Perceber que existem flores e perfumes
nesse tumulto. Saber que não fomos feitos para o tédio, que não nascemos para
ser mornos. Certamente se a beleza de ontem fosse eterna já não encontraria o
mesmo eco em nossas almas. Afinal, aquele que em nós viveu já não é vivo.
Somos, a cada dia, a nossa mais nova reinvenção.
Via: Revista Pazes