“O
que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo.”
(Clarice
Lispector)
O
relacionamento está insustentável, as brigas são constantes e vocês discutem
mais do que candidatos à Presidência. Não são raras as vezes que você engoliu a
seco as desculpinhas para justificar os atrasos, a falta de respeito e as
agressões psicológicas, mas, como te ensinaram que o verdadeiro amor tudo suporta,
você permanece firme, acreditando que é esse tipo de relação que merece.
Se
essa história parece familiar você precisa rever sua teoria sobre
relacionamento. É preciso entender que relacionamento não é sinônimo de prisão.
Você não deveria achar normal ter que trocar a cor do batom, nem não ser ‘autorizada’
a ter amizades masculinas, nem aprender a falar mais baixo. Da mesma forma que
não deveria proibir o futebol de domingo, a cervejinha do final da tarde, nem
ligar trinta vezes por dia para saber onde ele está. Onde não há confiança, não
há amor.
Sabe,
o amor não aprisiona, não aperta, não machuca. Simone de Beauvoir dizia que “quando se respeita alguém não queremos
forçar a sua alma sem o seu consentimento” e isso inclui a própria. Se as
brincadeiras das rodas de amigos não te servem, saia fora. Se as situações te
constrangem, não admita. Se as palavras te ofendem, não as receba. Não aceite
nada menor que suas expectativas. Essa história de que “o amor tudo suporta” é bonito na teoria e inadmissível na vida
real.
Insistir
em um relacionamento tóxico é o mesmo que mutilar o próprio coração.
Insista
em ter um bom emprego, em aprender um novo idioma ou em cursar a faculdade dos
seus sonhos, mas nunca em um relacionamento abusivo. Toda vez que você insiste
em pessoas erradas, você está deixando um pedaço seu morrer, além de correr o
risco de perder a própria identidade e destruir a própria vida.
Não
importa o motivo que te acorrente a esse relacionamento, você precisa quebrar
as algemas. Talvez por medo, insegurança ou dependência emocional, você tenha
permitido que a dor se tornasse rotineira e se convenceu que esse é o amor que
merece, mas amar é muito diferente disso. Lembre-se sempre que o verdadeiro
amor começa pelo próprio, depois parte para o recíproco.
O
grande psiquiatra Flávio Gikovate fez uma crítica sobre o sentimento que
deveria virar mantra: “amor é palavra
usada e abusada. É dita por quem tem alguma ideia acerca do seu significado e
também por aqueles que a repetem apenas por imitação. Usa-se mais a palavra
amor do que vive-se o sentimento. E quantas são as pessoas que se sentem
felizes no amor? Pouquíssimas. E quem é capaz de definir o que seja o amor?
Quase ninguém. E como podemos pretender nos dar bem nesse campo se não sabemos
nem mesmo como conceituar o sentimento?”
Quando
a pessoa que diz nos amar nos define como alguém incapacitado, insignificante e
nos humilha frequentemente, mesmo que de forma ‘sutil’, é hora de partir.
Jogue
a toalha, chute o balde, abandone o barco. Lembre-se que quem mendiga amor,
recebe-o como esmola.
Via: Obvious