Por
tudo o que lutamos para que o final não chegasse, merecíamos um final digno,
para que as nuvens se dissipassem mais cedo, vislumbrando-nos todo o caminhar
que há pela frente.
Não
existe adeus tranquilo, não existe separação leve, nem despedida serena, uma
vez que o rompimento com o que já parecia ser nosso abala as nossas certezas. E
esse abalo traz decepção, saudade, sofrimento e desesperança, pelo menos de
início. Mesmo que, lá na frente, confirmemos que era o melhor a ter ocorrido,
ali no meio do turbilhão de sentimentos, a sensação de perda é primazia.
Não
muitos encaram o processo de mudança de frente, seja para romper com pessoas,
com lugares, seja para deixar ideias para trás. As pessoas ouvem e assimilam o
que lhes chega, guardando aquilo tudo dentro de si, de acordo com o que possuem
intimamente e na sintonia daquilo em que elas próprias querem acreditar. Porque
só somos convencidos daquilo em que acreditamos – há raras exceções nesse
sentido. Poucos têm disposição de mudar a direção de suas crenças, pois isso
dói muito e requer uma coragem absurda. O mesmo ocorre em relação a pessoas.
Não
estamos preparados para enfrentar o que não dá certo, o que termina de vez,
porque parece que sempre sonhamos com o sucesso, embalando-o, envolto com todas
as nossas forças, esquecendo-nos de guardar um lugar onde repousar nossas
derrotas, as rejeições, os nãos, as despedidas enfim. E então, quando a vida
não dá certo, a gente se revolta, a gente sofre demais, porque a gente não se
preparou para isso, por nem um minuto sequer. Queremos mesmo é o “felizes para sempre”.
Infelizmente,
o “para sempre” pode não durar a vida
toda, as pessoas não ficam o tempo todo junto de nós, as oportunidades podem
não aparecer do jeito que queríamos, o amor pode não voltar na mesma medida,
tampouco vir de quem tanto desejamos. Talvez os finais, por isso mesmo, sejam
tão importantes – ou até mais – do que os inícios. Quanto mais traumático e
doloroso for o adeus, mais difíceis serão para nós o reerguimento e a esperança
no poder de cada novo dia.
Embora
seja difícil, é preciso muita força e muita maturidade para atravessar os
rompimentos da vida, para que tentemos manter um mínimo equilíbrio, necessário
para que não nos percamos de nós mesmos nessa dor. Pessoas que vivenciaram
sentimentos e afetos juntos, pelo tempo que for, no mínimo deveriam se despedir
sem gritaria destemperada e ofensas generalizadas, ainda mais se houver filhos
em jogo.
Por
tudo o que lutamos para que o final não chegasse, merecíamos um final digno,
para que as nuvens se dissipassem mais cedo, vislumbrando-nos todo o caminhar
que há pela frente. Quase nunca é assim, mas deveria sê-lo.
Via: Conti Outra