“Um
dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é”.
Fernando
Pessoa
“Eu
desejo que nos dias de chuva você se permita escutar a melodia dos telhados,
que à mercê das mágoas busque lembranças que prezem pela alegria. Desejo que a
vida lhe abrace no dia em que você precisar de companhia e que o vento lhe
sopre pistas sobre onde encontrar paixões e sonhos”.
Carla
Dias.
Eu
gosto dos dias de chuva. Ficar olhando pela janela, com o pensamento divagando
entre o tudo e o nada.
Gosto
também de dias mais frios, de sentir o arrepio na pele, de sentir-me viva.
Gosto de dias bucólicos, nostálgicos. Dias assim me despertam a saudade dos que
estão longe e dos que estão perto, porém, distantes. Daqueles que não consigo
sentir a presença, a não ser no peito e na lembrança.
E
não é de hoje que gosto de ficar assim, tranquila, contemplando as gotas que
tentam agarrar-se em vão a janela. Chega a ser quase hipnotizante. É como se eu
pudesse me desligar por alguns momentos da correria do dia a dia. É como se o
tempo parasse lá fora e, aqui, dentro de mim.
As
pessoas apertam-se em calçadas, dividindo o espaço restrito com seus
guarda-chuvas multicoloridos. Os passos são mais largos e descompassados.
Buscam a segurança e o conforto da marquise mais próxima.
Algumas
crianças, sorriem encantadas, agradecendo a oportunidade de usar a bota nova de
plástico que ganharam no Natal e que ainda não tinham usado.
As
mulheres, mais vaidosas, tapam o topo de suas cabeças com o que tiver
disponível, tentando proteger as madeixas alisadas recentemente no salão ou
preservando a escova feita pela manhã, nos preciosos minutos que poderiam ter
sido aproveitados degustando uma boa xícara de café e a leitura de um artigo.
Ou, quem sabe, em alguns momentos a mais de sono, desfrutados embaixo do calor
da colcha de retalhos.
O
cinza do céu, que muitos não gostam, a mim cai tal qual uma luva. E o cheiro da
grama molhada que invade as narinas mais aguçadas? Para mim, lembra melancia
fresquinha, cortada em fatias delicadas, aquelas bem docinhas. E o som, aquele
barulhinho que embala pensamentos e sentimentos? Quer sensação mais gostosa do
que um filme escolhido a dedo, uma boa taça de vinho e a melodia lá fora,
tornando o momento ainda mais introspectivo?
Enquanto
alguns reclamam, eu agradeço. Afinal, assim como os dias de sol, os de chuva
também tem seu encantamento. Basta que saibamos e estejamos dispostos a
contemplá-lo.
Pois,
como tão bem poetizou Fernando Pessoa: “Um
dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é”.
Via: O Segredo