A
gente achava que as pessoas pudessem escolher quem elas amariam, sem
julgamentos alheios. A gente achava que podia perdoar e que não mais voltaria a
enfrentar a mesma decepção repetidamente. A gente achava que não seria
machucado de novo e de novo pelas mesmas pessoas.
Sabe
aquela velha história de que, quando pensamos já ter todas as respostas, vem a
vida mudar todas as perguntas? É assim com tudo, porque nunca estaremos
preparados para ver, ler ou ouvir certas coisas, que achávamos serem
inconcebíveis. No entanto, quanto mais se vive, mais se surpreende com o que se
tem pela frente.
A
gente achava que ninguém mais daria algum tipo de importância à etnia, à cor da
pele, à proveniência de alguém, como se isso pudesse dizer alguma coisa sobre
as pessoas. Infelizmente, velhos e danosos estereótipos ainda persistem em muitos
meios sociais, onde negros são tidos como menos capazes, nordestinos são tidos
como preguiçosos, estrangeiros são tidos como ladrões de emprego.
A
gente achava que a pessoa pudesse escolher quem ela amaria, que pudesse amar
quem fosse, onde estivesse, da forma que lhe fosse melhor, caso não estivesse
importunando ninguém. Infelizmente, grande parte das pessoas ainda não consegue
aceitar relacionamentos que não se enquadrem nos preceitos religiosos ou nos
manuais de etiqueta dos séculos passados.
A
gente achava que vivia em um regime democrático, num país de livres escolhas
partidárias, de autonomia política, sem que precisássemos ser ofendidos e
agredidos verbalmente pelos eleitores dos outros partidos, com escárnio e, por
vezes, até mesmo através de agressões físicas. Infelizmente, principalmente nas
redes sociais da internet, assiste-se a uma troca de farpas violentas, num
ambiente intolerante e cínico.
A
gente achava que podia confiar nas pessoas, em casa, no trabalho, na vida, e
que o nosso melhor não seria devolvido da pior forma, justamente por quem mais
nos era especial. Infelizmente, muitas pessoas ainda não conseguem – porque não
querem – ser leais, invejando o que o outro tem ou é, porque simplesmente não
conseguem enxergar nada de bom em si mesmas.
A
gente achava que podia perdoar e que não mais voltaria a enfrentar a mesma
decepção repetidamente, porque o perdão faria o outro repensar suas atitudes. A
gente achava que não seria machucado de novo e de novo pelas mesmas pessoas.
Infelizmente, muitos indivíduos não são capazes de aprender, porque não querem,
porque não acham ser necessário, porque simplesmente não sabem olhar para nada
além de suas próprias necessidades limitadas. Não crescem, não amadurecem,
continuam brincando enquanto vivem, utilizando pessoas como brinquedinhos
descartáveis.
Viver
é uma aventura cheia de surpresas, muitas delas negativas. Felizmente, teremos
também muita coisa boa vindo ao nosso encontro, todos os dias, e é por isso que
sempre valerá a pena viver com amor e esperança. Apesar de tudo e de todos.