Amor
à primeira vista, amor de verão e amor de infância. Quase todo mundo já teve um
ou todos eles. E o amor patológico? Você já viveu algum?
Ensinou-nos
Chico Xavier que: “o verdadeiro amor não
prende, liberta! Ame porque isso faz bem a você, não por esperar algo em troca.
Criar expectativas demais pode gerar decepções. Quem ama de verdade, sem apego,
sem cobranças, conquista o carinho verdadeiro das pessoas”. Contudo
compreendemos que alguns de nós não conseguem vivenciar esse amor que liberta,
antes experimentam uma espécie de amor patológico: que não lhe traz felicidade,
bem como, faz grande mal ao seu objeto de desejo, o ser amado.
Este
tipo de amor é compreendido pela psicologia como uma doença equivalente a
dependência química, mas há tratamento e cura. Confira:
O
amor patológico é uma doença que causa dependência como se fosse uma droga, só
que nesse caso, a droga não é um produto químico ou álcool, é o parceiro ou
parceira. De acordo com a psicóloga Sílvia Rezende Azevedo, o amor patológico
atinge com mais frequência as mulheres, mas os homens também podem sofrer desse
mal.
Para
saber se alguém tem amor doentio é só analisar o relacionamento. “Chega a um ponto que o amor fica obcecado e
a pessoa deixa a sua vida para viver a do outro ou não permite que o parceiro
tenha vida própria”. Segundo Sílvia, quando a pessoa deixa os amigos, o
parceiro passa a ocupar mais espaço do que a família, o trabalho e outros
afazeres, ou o medo da relação acabar é incontrolável e se começa a seguir e
vigiar o outro, é certo que o amor deixou de ser algo saudável e se transformou
num vício.
“Pesquisas mostram que as áreas
do cérebro que são ativadas quando se está interessado por alguém são as mesmas
da obsessão. É uma sensação química e quando o amor passa a ser doentio a
pessoa tem crises se está longe ou sem o parceiro, tem sentimentos de culpa. É
como se fosse uma droga que não se pode ficar sem”, explica Sílvia.
A
psicóloga afirma que é difícil perceber que o limite saudável de uma relação
está sendo ultrapassado devido a uma questão cultural de que em um
relacionamento amoroso, principalmente no início, é normal amar exageradamente,
demonstrar que ama e fazer uma série de coisas pelo outro.
“É como o consumo de álcool que é
uma droga aceitável e consumida socialmente. No começo você bebe e não percebe
nada porque está dentro do normal, com o passar do tempo sua vida começa a
girar em torno disso e você não percebe que está passando do limite”, compara. A pessoa doente se
torna impulsiva e compulsiva devido ao vício. O amor se transforma em um
sentimento destrutivo para o casal e que em alguns casos pode ocasionar
tragédias como crimes e suicídios.
O
amor patológico pode atingir, principalmente as mulheres com mais de 30 anos e
que não têm um relacionamento estável. “As
mulheres estão mais seletivas e depois de determinada idade, quando encontram
um parceiro, ficam doentes por ele e são capazes de fazer tudo para não perder
essa relação”, diz Sílvia.
Esse
amor doentio não fica restrito a relação
homem-mulher. Pode atingir também pais, irmãos, filhos e amigos. “Algumas mães
gostam tanto dos filhos que acabam com o relacionamento amoroso deles e alguns
amigos têm ciúme doentio pelo outro”, exemplifica.
Características do amor patológico
A
psicoterapeuta e pesquisadora do Ambulatório do Amor em Excesso (Amore) da USP,
Eglacy Sophia, destaca alguns sintomas dos ‘doentes de amor’:
–
Sintomas de abstinência (como angústia, taquicardia e suor) na ausência ou no
distanciamento (mesmo afetivo) do amado;
–
O indivíduo se preocupa excessivamente com o outro;
–
Atitudes para reduzir ou controlar o comportamento de cuidar do parceiro são
malsucedidas;
–
É despendido muito tempo para controlar as atividades do parceiro;
–
Abandono de interesses e atividades antes valorizadas;
–
O quadro é mantido, apesar dos problemas pessoais e familiares.
Descubra se você está passando do limite
do amor saudável
Algumas
questões para uma autoavaliação e análise de uma espécie de ‘dosagem do amor’,
para saber se o sentimento está passando ou não do limite.
Avalie
a dosagem do amor com relação ao seu parceiro:
–
Você costuma se sentir satisfeito com a quantidade de atenção e tempo que
despende ao seu parceiro ou percebe que fez mais do que gostaria?
–
Você acha que a quantidade de atenção que dirige ao seu parceiro está sob seu
controle ou é comum tentar diminuir e não conseguir?
–
Você mantém outros interesses e relacionamentos ou abandonou pessoas e funções
em decorrência da sua vida amorosa?
–
Você continua se desenvolvendo pessoal e profissionalmente após o início de seu
relacionamento amoroso?
Se
respondeu “não” à maioria das
questões, é um sinal de alerta para o amor patológico. Nesse caso, existe a
necessidade de realizar uma avaliação clínica mais aprofundada com um
especialista.
Como tratar o amor patológico
O
amor patológico só é possível ser tratado quando a pessoa admite que está fora
de seu controle. Segundo a psicóloga Sílvia Rezende Azevedo, normalmente as
pessoas costumam procurar ajuda de um especialista somente quando o
relacionamento acaba ou existe a ameaça de perder o parceiro.
Quando
o amor vira doença muitas vezes ele vem associado a quadros de depressão,
fobias – como a síndrome do pânico – e ansiedade. Por isso, a terapia é
indispensável.
“Só é possível tratar se a pessoa
concordar em ter uma mudança de atitude”, destaca Sílvia.
A
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) também possui um setor
específico para tratamentos desses casos: o Ambulatório do Amor em Excesso
(Amore).
Para
não fazer do amor uma obsessão, a psicóloga recomenda:
1.
Goste mais de você antes de gostar do outro.
2.
Não escolha um parceiro com o objetivo de preencher um vazio.
3.
Encontre prazeres na vida (esporte, trabalho, hobby, amigos, família).
4.
Se conheça melhor e analise o que realmente quer para sua vida e que tipo de
relacionamento quer manter.
5.
Tenha consciência de que um parceiro vem para acrescentar coisas a sua vida,
que se trata de um cúmplice e não de um preenchedor de vazio.
Amor patológico é parecido com dependência
química, diz especialista
O
amor patológico é uma doença e deve ser tratada, segundo especialistas. Saiba
quais são os sintomas e o tratamento para quem ama demais.
Um
amor com status de doença. Um sentimento de dependência tão grande do parceiro
ou parceira que é capaz de causar tanto sofrimento quanto a compulsão por jogo,
sexo ou comida. Tão destrutivo quanto as dependências químicas. Quem sofre do
amor patológico convive com o medo diário de ser rejeitado ou de perder o
companheiro. E, assim, se descontrola. O Jornal Globo News falou com especialistas
para entender a doença e os tratamentos.
Os
sinais do amor patológico são parecidos com os da dependência química, segundo
Andrea Lorena da Costa, mestre pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade
de São Paulo: “Sinais e sintomas de
abstinência quando o parceiro está fisicamente ou emocionalmente distante, como
insônia e transtornos de apetite”. Ela também explica que o doente não
consegue parar de cuidar excessivamente do parceiro e até deixa de lado as
atividades do dia a dia para controlar o outro. Andrea ressalta ainda que quem
sofre de amor patológico não costuma ser violento contra o companheiro: “Ela é violenta contra si mesma. Vai querer
se ferir para chamar a atenção do parceiro”.
Daniela
Faertes, psicóloga da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, explica que
a diferença entre o ciúme patológico e o amor patológico está na postura do
amante: “A pessoa que tem amor patológico
tem uma postura mais passiva. Ela sente ciúme e reclama. Mas, justamente pelo
medo de perder o parceiro, ela não tem uma postura mais agressiva”. A
psicóloga diz que a doença pode ser tratada com psicoterapia e recomenda que,
ao perceber os sintomas em um familiar, a família auxilie na busca de
tratamento. “Essas pessoas sabem que
estão sofrendo, mas têm uma sensação de vergonha”, comenta.
Onde
tratar o amor patológico:
O
Ambulatório do Amor em Excesso da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP) aceita voluntários para tratamento e pesquisa do amor patológico.
As triagens são agendadas pelo telefone (11) 3069-7805, somente às
quartas-feiras, das 10h às 17h. Os participantes passam por 16 sessões de psicoterapia
e psicodrama em grupo.
Via: Portal Raízes