A
maneira como nos relacionamos diz muito sobre quem somos!
Começamos
olhando para aquele nosso amigo tímido. A timidez parece existir lá fora, como
parte de sua identidade, certo? Ainda assim, há pelo menos uma outra pessoa que
não vê timidez alguma ali e no mínimo um ambiente no qual ela não aparece.
Agora expandimos tal contemplação para todas as qualidades que atribuímos aos
outros. Alguma característica pode ser apontada como permanente? É verdade que
alguns condicionamentos persistem mais, como em alguém que fuma há 30 anos, mas
ele não é fumante por natureza: antes não fumava e pode cortar o vício.
Não
faz sentido falar em pessoas falsas, malignas, burras, vingativas. Tais
negatividades não pertencem a elas, não estão incrustadas na alma, não estão
entranhadas no âmago. São qualidades relacionais que se manifestam de acordo
com a posição em que elas estão na sociedade, na empresa, na família, entre
amigos.
Quem
aponta “ele é chato” revela o tipo de
relação que foi ‘co-construída’, o modo como nasceram um ao outro. Não há
chatice em ninguém ali. Portanto, se você reclama que vive cercado de pessoas
superficiais, isso não diz nada sobre elas, mas diz muito sobre como você se
relaciona.
Do
mesmo modo, tudo aquilo que você pensa ser, sua ‘essência’, são apenas formas
de relação que estabeleceu consigo diante do espelho e com as pessoas, objetos,
locais, com o mundo em geral. Bastaria cortarem todos os meus vínculos atuais,
inclusive com o apartamento onde moro, para eu começar a esmolar ou até mesmo
roubar para conseguir comida... eu mudaria 100%. O problema é que esquecemos
essa mobilidade e congelamos as pessoas como se elas fossem algo independente
do contexto e do nosso olhar construtor.
Se
não perdemos de vista essa natureza livre de atributos, aquele problema que
parecia vir do outro agora se mostra como uma possibilidade (restrita) de
conexão. E então naturalmente damos espaço a outros posicionamentos, olhares,
gestos. O outro muda quando mudamos a relação.
Para
andar num mundo de pessoas abertas e generosas, começo me abrindo. Oferecer o
meu melhor é já ativar o melhor dos outros. Por outro lado, se enxergo
manifestações transitórias como essências imutáveis, se não considero um
criminoso como um potencial parceiro, isso é sinal de que estreitei minha
visão, exatamente como aconteceu com o criminoso.
É
inútil imaginar um mundo melhor e discursar sobre transformação social se
continuamos congelando as pessoas ao nosso lado.
Via: Revista Vida Simples