Não
tá fácil, não. Somos uma geração de muitas metades no meio de poucos inteiros.
Concentramos esforços demais para desfazer laços e para questionar afetos.
Perdemos um tempão discutindo um jeito melhor de vivermos, mas quase não
colocamos em prática aquilo que achamos merecer.
Tenho
visto, e não é de hoje, o quanto depositamos maldizeres aos que não ficaram. O
quanto, nos piores dias, desejamos resultados negativos para todos que não
concordaram com algo que sentimos e dissemos. Parece que estamos cada vez mais
imersos numa onda de egoísmos e solidões. Nada é suficiente quando olhamos para
os lados. Temos essa sensação constante de vazio, mesmo que estejamos cercados
por outros. E a dor é ainda maior no momento em que reconhecemos diferenças e
desuniões.
Hoje,
querer reciprocidade virou um mantra diário. Mas quantas vezes, por livre e
espontânea vontade, demos em troca esses gestos incalculáveis? Será que
precisamos tanto pedir algo que deveria vir assim, sinceramente? É quase como
se apontassem um amor na nossa cara e dissessem, ame-o ou ame-o mais. Quer
dizer, será que não percebemos que inteiros são inteiros justamente por não
agirem tal qual metades?
Amor
não funciona sob pressão. Amor funciona em formato de escolha. O que é
recíproco, também é livre. Não invade, viola ou escancara. O que quer que seja
que aprendemos até o presente sobre inteiros, acredito que estávamos errados.
Ainda somos metades. E metades no meio de poucos inteiros, não funcionam, não
existem e, tampouco, amam.
Via: Conti Outra